ATA DA VIGÉSIMA SEXTA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 20.04.1994.

 


Aos vinte dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Sexta Sessão Ordinária da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às quatorze horas foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Clênia Maranhão, Clóvis Ilgenfritz, Décio Schauren, Divo do Canto, Eliseu Santos, Eloi Guimarães, Fernando Zachia, Geraldo de Matos Filho, Giovani Gregol, Guilherme Barbosa, Helena Bonumá, Henrique Fontana, Jair Soares, João Dib, João Motta, João Verle, Jocelin Azambuja, José Gomes, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Luiz Negrinho, Maria do Rosário, Mário Fraga, Milton Zuanazzi, Nereu D’Ávila, Pedro Américo Leal, Pedro Ruas, Wilton Araújo, Letícia Arruda e João Bosco. Constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Vigésima Quinta Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, 03 Pedidos de Providências, 01 Pedido de Informações nº 31/94 (Processo nº 878/94), 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 46/94 (Processo nº 879/94); pela Vereadora Clênia Maranhão, 01 Pedido de Providências; pelo Vereador Divo do Canto, 01 Pedido de Providências; pelo Vereador Eliseu Santos, 01 Pedido de Providências; pela Vereadora Helena Bonumá, 01 Projeto de Resolução nº 08/94 (Processo nº 760/94); pelo Vereador João Dib, 02 Pedidos de Providências; pelo Vereador Jocelin Azambuja, 01 Emenda ao Projeto de Lei do Legislativo nº 145/93 (Processo nº 2852/93); pelo Vereador Mário Fraga, 01 Substitutivo ao Projeto de Lei do Legislativo nº 161/93 (Processo nº 3110/93). Também, foram apregoados Requerimentos deferidos pelo Senhor Presidente, de autoria dos Vereadores Airto Ferronato e Jocelin Azambuja, solicitando que os Projetos de Lei do Legislativo nºs 138/92 (Processo 1698/92) e 145/93 (Processo nº 2852/93), respectivamente, sejam desarquivados. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 199, 200, 201 e 202/94, do Senhor Prefeito Municipal, 50/94, da Samrig, 345/94, da Câmara Municipal de Olinda/PE, 514/94, da Corsan, 237/94, da Petrobrás; Cartões da Juíza Tânia Escobar, do Deputado Cezar Schirmer, do Secretário Jorge Debiagi, do Conselho Regional de Enfermagem/RS, da Secretária Dilma Rousseff, do Diretor-Presidente da Epatur, da Secretária Municipal da Cultura; Convites para a Sessão em homenagem aos cento e cinqüenta e nove anos da Assembléia Legislativa do Estado e centenário de Oswaldo Aranha, para o 2º Seminário Latino-Americano da Infância, Adolescência e Cidadania, para as homenagens aos cinqüenta anos do Hospital de Pronto Socorro. Após, foi aprovado Requerimento verbal do Vereador José Gomes, solicitando alteração na ordem dos trabalhos, iniciando-se o período de COMUNICAÇÕES. Na oportunidade, o Senhor Presidente informou que este período seria destinado a homenagear Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, conforme Requerimento nº 62/94 (Processo nº 482/94), de autoria do Vereador José Gomes, e registrou a presença, na Mesa dos trabalhos, do Doutor César Alvarez, Secretário de Governo do Município, representando o Senhor Prefeito Municipal; do Coronel Eugênio Ferreira da Silva Filho, Sub-Chefe do Estado Maior da Brigada Militar, representando o Comando Geral da Brigada Militar; do Doutor Antonio Carlos Paz, Presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil; do Doutor Cláudio Barbedo, Chefe de Polícia Substituto. Após, o Senhor Presidente informou que o Vereador Isaac Ainhorn encontra-se ausente dessa Sessão por estar representando a Casa em solenidade na Assembléia Legislativa, referente ao centenário de nascimento de Oswaldo Aranha, e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador José Gomes falou de seu orgulho por participar, como proponente, dessa homenagem aos policiais civis e militares, comentando a importância da figura de Tiradentes como referencial de luta pela liberdade, pelo sonho do pleno exercício da cidadania. O Vereador Pedro Américo Leal declarou ser a liberdade o objetivo de cada indivíduo, destacando a noção de respeito como a principal “viga de sustentação” dessa liberdade tão buscada pelo homem. Disse ter Tiradentes morrido por não renegar as suas convicções, o que lhe garantiu um papel básico na história brasileira. O Vereador Jair Soares teceu comentários sobre o quadro político, econômico e social apresentado pelo Brasil na época de Tiradentes, analisando os motivos que levaram à criação do movimento pela separação de Portugal. Finalizando, saudou a Polícia Civil e Militar pelo trabalho realizado na defesa da nossa comunidade. O Vereador Jocelin Azambuja procedeu a uma reflexão sobre a democracia e a liberdade, traçando paralelo entre a situação brasileira hoje e a verificada na época de Tiradentes. Ainda, destacou a necessidade de união de todos para que seja viabilizada a construção de uma Pátria melhor para nós e para nossos filhos. A Vereadora Maria do Rosário disse ser Tiradentes, no imaginário popular, a imagem de uma liderança viva na busca da defesa da independência e da soberania nacional. Atentou para a composição complexa do movimento integrado por Tiradentes, salientando o objetivo comum de defesa dos interesses brasileiros. O Vereador Milton Zuanazzi classificou a busca da soberania nacional como a essência da luta de Tiradentes, salientando exigir a situação brasileira hoje nosso claro discernimento para que não ocorra a entrega do País aos grandes grupos econômicos internacionais. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou as presenças, no Plenário, do Coronel Antônio Tadeu Monteiro Dourado, Diretor do Instituto Beneficente Coronel Massot, do Senhor Adelmar Vieira, Presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar, do Tenente-Coronel Vanderlan Lima, Chefe de Comunicação Social da Brigada Militar, do Senhor Renato Souza, Presidente licenciado do Sindipol, do Doutor Heitor França, Delegado do Detran, do Senhor Benjamim Buejo. Também, registrou a presença de oficiais, praças e soldados da Brigada Militar e Polícia Civil. Após, concedeu a palavra ao Coronel Eugênio Ferreira da Silva Filho e ao Doutor Antonio Carlos Paz, que ressaltaram manterem-se vivos os ideais de liberdade defendidos por Tiradentes, agradecendo a homenagem prestada pela Casa e o apoio sempre recebido na busca da amenização dos problemas de falta de recursos humanos e materiais que enfrentam as Polícias Civis e Militares. A seguir, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da solenidade, destacando a importância do trabalho da Polícia Civil e Militar, agradeceu a presença de todos e suspendeu os trabalhos às quinze horas e vinte e nove minutos, nos termos do artigo 143, II do Regimento Interno. Às quinze horas e trinta e quatro minutos, constatada a existência de “quorum”, foram reabertos os trabalhos. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador Jair Soares manifestou sua perplexidade frente a forma como vem sendo tratadas as questões públicas pelo Governo Federal, referindo-se ao estado de calamidade pública decretado pelo Governo na área da saúde e nas estradas federais. Ainda, disse ser obrigação do Governo impedir que a situação chegue a um estado tão critico e lamentou a atuação do Congresso Nacional no referente à votação do Orçamento para o corrente ano. Também, relatou trabalhos realizados por Comissão Especial constituída na Casa para fazer uma análise institucional dos problemas da área de saúde em nosso Município. O Vereador João Bosco comentou projeto de sua autoria, apresentado ano passado, que visava a destinação do Ginásio Tesourinha apenas para prática de esportes, lembrando acordo feito, na ocasião, o qual resultou na retirada de seu Projeto. Assim, declarou-se contrário à possibilidade de utilização desse Ginásio para o alojamento de colonos-sem-terra, que viriam à Capital para participar de Congresso que visa reunir dois mil colonos em Porto Alegre. Após, constatada a existência de “quorum”, foi aprovado Requerimento verbal do Vereador Jocelin Azambuja, solicitando alteração na ordem dos trabalhos, iniciando-se a ORDEM DO DIA. Em Votação esteve a Redação Final do Projeto de Resolução nº 14/93, que, face a manifestações formuladas pelos Vereadores João Verle, João Dib e Jair Soares, acerca da necessidade de correção do artigo 8º deste Projeto, foi retirado pelo Senhor Presidente e encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça. Em Discussão Geral e Votação Nominal foi aprovado o Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 24/93, considerando-se rejeitado o Veto Total a ele aposto, por vinte e seis Votos SIM e cinco ABSTENÇÕES, após ter sido discutido pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Milton Zuanazzi, Maria do Rosário, Wilton Araújo, Pedro Ruas, Henrique Fontana, Jocelin Azambuja, Guilherme Barbosa, Clóvis Ilgenfritz, João Dib, Eloi Guimarães e João Motta e encaminhado à votação pelo Vereador Nereu D’Ávila, tendo votado Sim os Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Clênia Maranhão, Divo do Canto, Eloi Guimarães, Fernando Zachia, Geraldo de Matos Filho, Guilherme Barbosa, Henrique Fontana, Jair Soares, João Dib, João Motta, Jocelin Azambuja, José Gomes, Luiz Braz, Maria do Rosário, Mário Fraga, Milton Zuanazzi, Pedro Américo Leal, Nereu D’Ávila, Pedro Ruas, Wilton Araújo, Letícia Arruda, João Bosco, Lauro Hagemann e Luiz Negrinho, e tendo optado pela Abstenção os Vereadores Clóvis Ilgenfritz, Décio Schauren, Giovani Gregol, Helena Bonumá e João Verle. Na oportunidade, o Senhor Presidente apregoou Requerimento deferido por Sua Excelência, de autoria do Vereador Giovani Gregol, solicitando Licença para representar a Casa, sem ônus, no VI Encontro Nacional de Entidades Ambientalistas Autônomas, em Londrina, de vinte e um a vinte e cinco de abril do corrente. Também, o Senhor Presidente registrou o transcurso, hoje, do aniversário da taquígrafa Enilda Rosa Prestes, funcionária da Casa. Em Discussão Geral e Votação, foi aprovado por vinte e cinco Votos SIM e uma ABSTENÇÃO, o Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 06/94, tendo votado Sim os Vereadores Airto Ferronato, Clênia Maranhão, Décio Schauren, Clóvis Ilgenfritz, Divo do Canto, Eloi Guimarães, Fernando Zachia, Geraldo de Matos Filho, Guilherme Barbosa, Helena Bonumá, Henrique Fontana, João Dib, João Motta, João Verle, Jocelin Azambuja, José Gomes, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Maria do Rosário, Milton Zuanazzi, Nereu D’Ávila, Pedro Américo Leal, Wilton Araújo, Letícia Arruda, João Bosco e tendo optado pela Abstenção o Vereador Antonio Hohlfeldt. O supra referido Projeto foi discutido pelo Vereador Eloi Guimarães e encaminhado à votação pelos Vereadores Nereu D’Ávila, Clóvis Ilgenfritz, Jocelin Azambuja e João Dib. A seguir, foi aprovado Requerimento do Vereador João Verle, solicitando seja o Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 06/94 dispensado da votação de sua Redação Final. Em continuidade, foi aprovada a prorrogação da presente Sessão por mais duas horas. Em Discussão Geral e Votação foi aprovado por vinte e dois Votos SIM o Projeto de Lei do Legislativo nº 02/94, tendo votado os Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Clênia Maranhão, Clóvis Ilgenfritz, Décio Schauren, Eloi Guimarães, Geraldo de Matos filho, Helena Bonumá, Henrique Fontana, João Motta, João Verle, Jocelin Azambuja, José Gomes, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Maria do Rosário, Milton Zuanazzi, Nereu D’Ávila, Pedro Américo Leal, Wilton Araújo, Letícia Arruda e João Bosco. A  seguir, foi aprovado Requerimento do Vereador João Verle solicitando seja o Projeto de Lei do Legislativo nº 02/94 dispensado da votação de sua Redação Final. A seguir, o Projeto de Resolução nº 03/94 teve sua discussão adiada por três Sessões a Requerimento, aprovado, do Vereador Jocelin Azambuja. A seguir, foram aprovados os seguintes Requerimentos: da Vereadora Maria do Rosário, de Voto de Congratulações com o Deputado Federal Moroni Torgan, relator da Comissão Parlamentar de Inquérito da Prostituição Infantil, por ter dado voz de prisão ao conhecido explorador da prostituição e tráfico de menores Vitor de Jesus, o “Buda”, solicitando seja o Projeto de Lei do Legislativo nº 45/94 considerado em regime de urgência e submetido à reunião conjunta das Comissões Permanentes; do Vereador João Motta, solicitando seja o Projeto de Lei do Executivo nº 06/93 considerado em regime de urgência e submetido à reunião conjunta das Comissões Permanentes e solicitando a retirada de tramitação da Emenda nº 03 ao Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 05/93; do Vereador Henrique Fontana, solicitando Moção de Repúdio à decisão da Direção do Hospital São Lucas, de diminuir os atendimentos ambulatoriais e hospitalares que esta entidade presta à população pelo Sistema Único de Saúde. Às dezoito horas e treze minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Luiz Braz e Clóvis Ilgenfritz e secretariados pelos Vereadores Wilton Araújo e Pedro Américo Leal, ste como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Wilton Araújo, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia do documento original.)

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): A palavra com o Ver. José Gomes para um Requerimento.

 

O SR. JOSÉ GOMES: Sr. Presidente, solicito que o período de Comunicações seja realizado em primeiro lugar, antes da Pauta, do Grande Expediente e da Ordem do Dia.

 

O SR. PRESIDENTE: Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

Eu devo avisar que hoje, no período de Comunicações, estaremos atendendo as inscrições que estão sendo feitas neste exato instante. O livro já está aberto. Temos um total de cinco inscrições.

O período, hoje, é destinado a homenagear Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes - conforme Requerimento nº 62/94, de autoria do Ver. José Gomes.

Queremos justificar a ausência do Ver. Isaac Ainhorn, que está representando esta Casa em uma solenidade na Assembléia Legislativa, com relação ao centenário de nascimento de Oswaldo Aranha.

Agradecemos a presença de todos os senhores que hoje vêm honrar esta Casa neste dia em que, através de Requerimento do Ver. José Gomes, a Câmara Municipal vai prestar uma homenagem a Tiradentes. Então, tanto a Brigada Militar, que está aqui presente muito bem representada e que muito orgulha esta Casa com a sua presença, como também as outras autoridades civis e militares, as senhoras e os senhores são muito bem-vindos à Câmara Municipal neste dia, como em todos os dias.

Convidamos a participar da Mesa: o Exmo. Dr. César Alvarez, Secretário de Governo do Município, representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Exmo. Cel. Eugênio Ferreira da Silva Filho, Subchefe do Estado Maior da Brigada Militar, representando o Comando Geral da Brigada Militar - aliás, o Cel. Vanderlan comunicou que só não compareceria a este ato porque estava acompanhando o Sr. Governador do Estado; o Exmo. Sr. Presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil, Dr. Antonio Carlos Paz.

Em um momento difícil por que todos nós passamos, é motivo de festa, de orgulho, quando nós podemos homenagear um dos grandes heróis de nossa Pátria, porque eu acredito que, trazendo a imagem de Tiradentes nesta homenagem, este espírito de heroísmo, de nacionalismo, possa revestir todos os corações dos brasileiros para que possamos, neste momento, vencer todas as dificuldades que enfrentamos. Que esse espírito possa iluminar a cabeça de todas as nossas autoridades que estão, agora, com um condão de decidir o futuro desta Nação, o caminho que nós devemos trilhar, para que nós possamos, como sociedade, ter dias melhores.

Eu acredito que esta homenagem, este momento por que passa esta Casa, tem exatamente este objetivo: de fazer com que revivam no coração de cada brasileiro momentos grandiosos, como aqueles vividos à custa da vida de Tiradentes, mas que hoje nós relembramos com muita altivez, porque é um dos grandes exemplos que nós temos no nosso passado a embasar o nosso futuro, para que possa vir a ser um futuro de muitas glórias.

A palavra está com o Ver. José Gomes, que, através do seu Requerimento, deu origem a esta Sessão.

Antes de o Ver. José Gomes fazer uso da tribuna, nós convidamos para vir à Mesa o Exmo. Sr. Chefe de Polícia Substituto, Dr. Cláudio Barbedo.

 

O SR. JOSÉ GOMES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) É um orgulho me dirigir a essas duas classes de policiais - civis e militares -, mas é um orgulho maior ainda reverenciá-los no dia em que nós homenageamos Tiradentes.

(Lê.)

“Amanhã, 21 de abril de 1994, às 11h, na Praça Lampadosa, no Rio de Janeiro, e em algum lugar do éden, os instrumentos repetirão o mesmo som tocado em 1792, ou seja, duzentos e dois anos atrás, som este que levou à morte um militar e policial, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Esta Sessão pretende render uma homenagem não só a Tiradentes, executado pela Coroa Portuguesa em 21 de abril de 1792, mas também, e sobretudo, aos policiais civis e militares que, desde o decreto presidencial de 46, instituiu o 21 de abril como Dia dos Policiais Civis e Militares.

A escolha da mesma data para a Polícia Civil e Militar obviamente não é resultado de uma coincidência. Joaquim José da Silva Xavier, que teve seu corpo esquartejado e teve sua cabeça exposta no alto de um poste de Vila Rica, foi e é um referencial de luta não só porque se insurgiu contra o ‘status quo’ vigente, recusando-se a ser um mero executor do arbítrio e dos desmandos da Coroa, mas, principalmente, porque sonhava e lutava pelo fim da escravatura, pela liberdade, enfim, pelo pleno exercício da cidadania. São esses ideais que devem nortear a permear as ações de um verdadeiro policial, aquele profissional consciente que tem o dever de assegurar a todos o exercício da cidadania, devendo servir e proteger com prioridade o cidadão, antes do Estado.

O perfil do alferes Tiradentes como policial contrastava com o modelo imposto à milícia da época. No seu livro ‘História de Portugal’, o historiador Oliveira Martins nos diz o seguinte sobre o período Brasil Colônia: ‘No Brasil, o que havia, ao invés de leis, eram sentenças. A polícia não se ocupava da segurança; era principalmente um instrumento de perseguição reacionária.’

A Conjuração Mineira, personalizada na figura de Tiradentes, lutava pelo mais puro dos ideais: a liberdade. E lutar pela liberdade era lutar contra o despotismo, contra a espoliação e a situação de dependência que outrora nos impunha Portugal. Passados duzentos e dois anos, vemos que as principais reivindicações, os principais problemas que levaram os conjurados a se reunirem continuam. Passados duzentos e dois anos, ainda lutamos por distribuição de renda, melhor aplicação da justiça e melhores remunerações, já que na época eram constantes os atrasos nos soldos. Por isso que a Conjuração teve como principais atores proprietários de lavras, negociantes e militares.

Passados duzentos e dois anos da morte de Tiradentes, nós, policiais civis e militares, continuamos observando atentamente este País e vemos nossos companheiros, trabalhadores da área de segurança, serem mortos, mutilados e desalojados. Poderíamos citar vários Tiradentes que morreram em serviço; não o faremos, pois teríamos que elencar uma grande nominata. Naquela época o próprio alferes chegou a ser preterido em detrimento de alguns oficiais, o que hoje também acontece nas corporações. Somos trabalhadores da área de segurança pública e, como Tiradentes, seremos mortos. Nós poderíamos elencar todos os companheiros que foram mortos, pois dez minutos não seriam suficientes para que nominássemos todos, mas, entre policiais civis e militares, nós chegamos a uma média de dez a vinte homens mortos em serviço. No ano passado, perdemos um companheiro em serviço, que foi reverenciado por esta Casa, o Ten. Peres, como outros soldados, como outros sargentos, como recentemente o Sarg. Mário. Então, são passagens na vida do policial na qual ele é colocado na rua, na qual recebe uma missão e na qual, pelo sacerdócio de servir à sociedade, lhe é tirada a vida.

Além de todos os riscos, de toda a tensão que cerca a nossa atividade, temos que conviver com uma realidade de baixos salários, condições subumanas de trabalho, arbitrariedades, abuso de poder, cerceamento de nossas convicções. É este o cenário de uma classe que continua sonhando com a liberdade, liberdade para sonhar com uma nação em que todos possam exercer o direito de cidadão. Porque ser cidadão é, principalmente, viver dignamente, morar dignamente, trabalhar dignamente. Infelizmente, após duzentos e dois anos, ainda temos que lutar por esses direitos tão básicos e tão fundamentais pelos quais Tiradentes morreu.”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos as presenças do Cel. Antônio Tadeu Monteiro Dourado, Diretor do IBCM, Instituto Beneficente Cel. Massot; do Presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar, Sr. Adelmar Vieira; Tenente-Coronel Vanderlan Lima, Chefe de Comunicação Social da Brigada Militar; Presidente licenciado do Sindipol, nosso amigo Renato Souza; Dr. Luiz Heitor França, Delegado do DETRAN; demais oficiais, praças e soldados da Brigada Militar e policiais civis presentes, todos honrando muito esta Casa com suas presenças.

O Ver. Pedro Américo Leal está com a palavra.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) O que há de mais precioso que a liberdade? Perguntou o pensador. Para ele os homens, através de todos os tempos, lutam constantemente. Os motivos são vários, até por critérios, tentando justificar as suas posições. Há os que querem tomá-la de outros. E há os que resistem para não perdê-la. Amarguradamente, às vezes, para adquiri-la, e até, melancolicamente, para recuperá-la. A recuperação da liberdade é motivo de poesias, de obras, de muitas lágrimas e de muitas vidas. Do que vale o valor supremo da vida que nos é legada por um Deus em que cada um de nós crê, sem a liberdade? A sua concepção envolve o dia de amanhã. Há mais de séculos de distâncias no tempo. A sua relatividade também se encontra no dia 21 de abril, por exemplo. De qualquer ano a partir da data da Inconfidência Mineira que hoje abordamos.

Qual a mais importante viga dos alicerces da liberdade humana? Qual há de ser? Ir e vir? Escrever? Não ser atingido? Não atingir a consciência dos outros e ter a consciência disso? A liberdade é acima de tudo uma noção de respeito. Tanto que é postulado de Direito: “A minha liberdade termina onde inicia a liberdade do outro.” Do que ele tem. Do que é dele. Do uso de seus pensamentos. Passando pelas expressões até as ações. Isso envolve polícia, militar e civil. A quem atinge? Como atinge? Até onde é atingido o Direito do outro? O dia de amanhã, data do incidente conspiratório, na época, no cenário mundial, foi de pouca significação. Envolveu grupos de intelectuais, gente de expressão e um simples alferes de milícia que, se não houvesse o incidente, nem existiria para a história do mundo atual. Teria ficado por lá sendo um qualquer um. Emergiu dos Autos da Devassa, do Processo da Inconfidência Mineira, expressão inábil para a história do Brasil, porque não foi uma Inconfidência. Esta figura modesta, que atravessaria os episódios, alguns tristes, como um bólido, para ser herói hoje. Era um homem simples como é o policial militar e civil que vemos na rua e sequer sabemos o seu nome, às vezes guardando o nosso quarteirão e a nossa casa, no distrito em que serve. E por quê? Ah! A história dos porquês! Todo o porquê exige uma resposta e quando ela é não, exige uma explicação! Este militar subalterno, sem prever o texto da história que iria preconizar e viver, Joaquim da Silva Xavier, se destacava e se destacaria apenas por não ter aberto mão de suas convicções que eram coerentes. Só! Mais nada. Andou, transitou, pregou e permaneceu no lugar. Ficou só. Soube ficar só perante os outros, acompanhado de suas idéias. O que faz a criatura diante do infortúnio não se humilhar, continuar, se lhe restou vida. Andando, visitando, falando, sendo recebido com respeito e ouvido com atenção, mas podendo fazer isso. Muita gente assim procedeu, mas ninguém lhes deu crédito.

Escutamos, ainda hoje, suas passadas rumo ao cadafalso. Ironicamente, o Tiradentes, esse simplório, historiadores dizem ter sido um irresponsável, foi enquadrado ao cadafalso por cem soldados da Infantaria Portuguesa, quase uma companhia, para que não fugisse. Era o que desejava Portugal, que ele desesperasse. Seis regimentos de Infantaria e dois de Cavalaria Lusitana ornavam a praça. Um verdadeiro exército. Portugal era uma potência. Se ele foi um suicida, ou vítima de um assassinato previamente anunciado, ouvimos, ainda agora, sua sentença. Caberia até pararmos, neste momento, para analisarmos: quem é esta criatura que arvorou se meter de “pato a ganso”? Um simplório que resolveu ... porque não sabia sequer que a história o iria imortalizar.

No passado, o Brasil que engatinhava, lá na Praça da Lampadosa, onde seriam executadas pretensões  prematuras de liberdade. Todas as pretensões de liberdade, para o opressor, são prematuras. Mais um louco caminhava em direção ao seu sonho, sem nenhum respaldo ou direito de sonhar; um homem contra uma potência da época - Portugal -, que na expectativa de um acovardamento daquele moço,  precisava de um exemplo para manter sua tranqüilidade de Governo - e não veio.

Tiradentes se caracteriza, para mim, como aquele que frustrou uma grande potência naquilo que ela precisava e pretendia, por isto toda aquela encenação se justifica pela pretensão de Portugal. Para que matar um brasileiro com tanto aparato? Mas precisava-se de um acovardamento ali, que não veio. Passos firmes, olhar no infinito, assumiu o seu papel ao lado de seu confessor o visionário que, na verdade, derrotava Portugal. Suas últimas palavras, serenas, foram até bondosas. Não foi uma voz de comando, apesar de ser um militar. Poderia até, para caracterizar aquilo que pretendia, epicamente, fazer um pronunciamento, uma voz de comando que a história consagraria e estaríamos aqui a repetir - tornando mais simpático meu pretenso discurso. Não! Foi uma frase de compreensão diante da incompreensão de que era vítima. Olhando para seu carrasco mascarado, ordenou brandamente: - “Faça seu serviço, amigo, mas com rapidez.” O Brasil enfrentava Portugal, que não avaliou, naquele momento, o abalo que teria. Pois foi esse homem, meus caros policiais, com esta carga de valores, com este carisma, que vocês, permitam que os tratemos assim, que vocês, policiais civis e militares, escolheram e elegeram para patrono. Pois então entendam-no! Se escolheram para patrono entendam-no. Em suas missões, vocês, sem apoio como necessitam dos governos a que servem, seja União ou Estado, sem uma Secretaria de Segurança sequer no Ministério da Justiça, não existe uma Secretaria de Segurança no Ministério da Justiça, continuam a perseverar tentando fazer política sem ter sequer segurança. O Estado também sem uma Secretaria de Segurança, para fazer a política de Segurança Pública. Não para fazer polícia, nem para comandar Polícia ou Brigada, para fazer a política de Segurança Pública.

Como Tiradentes, vocês cercados, policiais civis e militares, por regimentos de marginais, cada vez mais ficam audaciosos, poderosos, bem nutridos e apoiados. Parece uma repetição do Largo da Lampadosa. Bem armados, agora devidamente comandados, com melhor apoio logístico do que a Fazenda lhes dá. Vindo do narcotráfico, com verbas, atacam a Polícia Civil e Militar, dia e noite, no Rio com AR 15, enquanto vocês resistem com viaturas constantemente dilapidadas, estragadas, pela manutenção que é deficiente, principalmente na Polícia Civil. Resistem com 38 e, às vezes, com cano 12. E os vencimentos da classe subalterna, que não podem ainda acompanhar por deficiência da legislação, o mesmo tratamento que os níveis com superiores - o Governador deseja fazer isso. Posso dizer isso porque conversamos muito intimamente sobre isso, a falta de recursos, material e pessoal.

As críticas da própria sociedade, desesperada pelos ataques nas ruas e até nos lares, enxergando em vocês os que deveriam defendê-la e não o fazem; a consciência de que são pequenos para o problema, para a liberdade também reclamada pelo simples cidadão que paga impostos e que continua à mercê do banditismo. Que pergunta a todo o momento o porquê disso, quando vai acabar? O que vocês fazem? Não sabem que não é apenas o problema social, é, principalmente, a legislação penal, é a impunidade. Que arma alimenta e impulsiona esses bandidos? Uma sociedade que não entende, que não sabe, não estuda, apenas lê jornais, e pensa de que é somente o problema social. Quem está atacando é o bandido organizado, o bandido instruído, é o bandido que até já foi polícia, é um profissional do crime, por isso a polícia tem que ser bem treinada, bem apoiada, bem instruída e bem remunerada.

Meus policiais, assim os posso tratar, a autoridade que representam não acarreta gratidão permanente; não se iludam com isso, mas paradoxalmente a indiferença e o esquecimento nos bons momentos que vocês proporcionam a ela que recorre a vocês. E a revolta profunda, quase ofensa, nos momentos difíceis, aqueles que vosso patrono viveu. Entendam-no! Vocês hão de ficar quase sempre sozinhos nos grandes momentos. É o que representa o patrono de vocês: saber ficar só nos piores momentos. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Jair Soares.

 

O SR. JAIR SOARES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Fica muito difícil falar sobre Tiradentes depois de ouvirmos o Ver. José Gomes, autor da homenagem, e o Ver. Pedro Américo Leal. Difícil porque sobre essa figura histórica eles abordaram aspectos da maior importância. Amanhã é o dia 21 de abril. Uma das profissões que exerço por muitos anos também consagrou esse dia para homenagear aos cirurgiões-dentistas. Posteriormente, mudaram para o dia 4 de outubro.

Tiradentes tinha esse apelido porque, além de mascate, além de minerador, era médico prático, que, na época, manipulava na área bucal, e, pela sua destreza no manejo do boticão - hoje, o fórceps -, ele adquiriu o apelido de “Tiradentes”. Alferes no Exército, serviu no Regimento dos Dragões, em Minas Gerais. Ficou onze anos como militar; foi preterido quatro vezes nas promoções. Como um idealista na busca da liberdade, aproveitou-se, à época, da insidiosa cobrança dos quintos sobre o ouro e, na conspiração natural de sua personalidade, criou um movimento que tinha a senha: “Tal dia é o batizado.” Mas houve um aborto por um delator, provocando várias prisões. Todos confessaram. Não restou outra alternativa a Tiradentes, senão confessar por último e assumir toda a culpa da conspiração. Foi o único que não pediu a indulgência, a clemência. Foi morto, executado, em 21 de abril, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça foi enviada em uma gaiola para Minas Gerais e os quartos restantes foram exibidos. Tanto a cabeça como o resto do corpo apodreceram. E diziam, à época, que o “malfadado alferes” que lutava pela liberdade não prestava serviço a sua Pátria. Homem de alto tirocínio! Naquele século, já pregava a construção de uma fábrica de mineração em Minas Gerais.

Amanhã é o dia dos policiais: a nossa Polícia Civil e Militar. Não poderia, pelas condições que todos sabem e que não vou repetir, pois não é do meu feitio, do meu estilo, deixar de vir aqui fazer a minha homenagem àqueles que têm que prestar a segurança aos cidadãos rio-grandenses. Faço com o prazer e com o cuidado que sempre tive com a área da segurança. Cheguei, nos idos de 1982, a proclamar, como uma das minhas metas, que queria uma cidade mais justa e sem medo. Quando olho nas nossas ruas para os nossos policiais mais antigos - que conheço pessoalmente - e os nossos brigadianos, confesso que me orgulho. Orgulho-me, talvez, como Tiradentes tenha-se orgulhado pelo trabalho que fez e que a História registrou. Ele não queria liberdade dissociada do processo político e econômico.

Hoje, quando vemos no nosso País a população angustiada, clamando por segurança, exatamente no dia em que comemoramos o Dia do Policial, nós devemos fazer “mea culpa” do que estamos fazendo para melhorar os serviços policiais preventivo e ostensivo do nosso Estado. Não poderia deixar, nesta data, de associar-me a esta homenagem e levá-la ao encontro daqueles que, na árdua missão do dia-a-dia, fazem com que nós todos possamos viver com mais tranqüilidade, desempenhando as nossas atividades guardados pelo preceito constitucional do direito de ir e vir, tão ansiado pelos povos.

Que a democracia, que a liberdade sejam, realmente, as metas dos homens de bem do nosso Estado e do nosso País! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Está com a palavra o Ver. Jocelin Azambuja.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, autoridades aqui já nominadas que compõem a nossa Mesa, Srs. Vereadores, autoridades policiais civis e militares, senhoras e senhores. Neste momento, pronunciamo-nos em nome da Bancada do PTB e também, por solicitação da sua Liderança, do Partido Progressista, pelo Ver. Luiz Negrinho.

Fazemos hoje uma homenagem bem lembrada pelo nobre Ver. José Gomes na véspera da comemoração desse dia, que significa uma reflexão sobre liberdade, sobre democracia, sobre aspirações que o nosso povo clama há tanto tempo e que estão justamente lembradas na figura e na imagem de Tiradentes e naquilo que ele legou ao nosso povo. Foram, felizmente, os policiais civis e militares que o escolheram para seu patrono.

É importante que, neste momento da vida nacional, em que todos nós nos perguntamos sobre o que realmente vai acontecer a nossa sociedade, se preocupem todos aqueles que têm filhos em saber o que estão legando aos nossos filhos, o que estão deixando, de fato, de herança. Tiradentes lutou, como um simples alferes, pela liberdade, esta liberdade pela qual continuamos lutando após estes anos, continuamos lutando e que não conseguimos. Não temos a liberdade que queremos. Continuamos uma nação escrava, continuamos uma nação subdesenvolvida, continuamos matando os nossos filhos de fome e de miséria. Precisamos sair às ruas fazendo campanha pela fome e pela miséria para trazer um prato de comida aos nossos irmãos.  Continuamos não dando a educação que esse povo merece. Continuamos não permitindo que as gerações possam desenvolver-se e assumir a condição de cidadania que todos precisam ter nesse País.

É importante que reflitamos profundamente e que amanhã, quando tivermos feriado nacional, façamos uma análise, junto com nossos familiares, sobre os rumos que precisamos dar, os caminhos que este País precisa seguir. E claro que temos consciência, todos, em todas as nossas reflexões, que o caminho mais importante de todas as civilizações é a liberdade, é o da democracia, o da responsabilidade. Não existe outro caminho. Agora: precisamos construí-lo; precisamos fazer com que não passemos sempre a relembrar, a imaginar que, quem sabe, um dia teremos. Nós precisamos concretizar. Nós precisamos dizer aos nossos filhos que nós, realmente, estamos dando um futuro a eles. Nós não precisamos dizer a eles, que têm que sair pelas ruas, que não podem sair à noite porque o outro irmão deles, esfomeado, marginalizado pela sociedade, agredido pela sociedade, vai tentar destruí-lo, tirar-lhe, quem sabe, a vida. Vamos precisar de um policial a cada esquina para protegê-los. Eles não poderão mais sair às ruas, não poderão mais se divertir, não poderão mais ser jovens. Terão que estar lá, gradeados em suas casas, seus apartamentos, os carros blindados. É este o futuro que queremos dar aos nossos filhos? É o conflito que todos nós passamos no dia-a-dia, quando um filho diz “pai, quero ir a uma festa”, a filha diz “pai, quero ir a uma festa”. Como? Não há condições, falta segurança. Mas não é que falte segurança porque não temos os policiais, ou que não exista infra-estrutura adequada. Isso, para mim, é um aspecto da questão da segurança. A questão básica é a falta de emprego, é a miséria do povo, é a dificuldade de acesso social, é a má distribuição de renda, são as péssimas condições que o povo tem, condições subumanas de vida, morando em guetos, num submundo que todos desprezam e não querem olhar. Mas esta é a realidade. Os policiais que estão na rua no dia-a-dia sofrem - os policiais civis e militares - e vivem com problemas psicológicos, com problemas de assistência social. Muitos não querem trabalhar na rua; querem ficar nos quartéis, e sofrem, vêem que as condições de soluções desses problemas não aparecem em função, justamente, disso, da má administração pública, dos maus brasileiros que não assumem de fato a governabilidade deste País, que permitem que as nossas riquezas se evadam dia a dia pela falta de habilidade de todos os grupos políticos, que não conseguem dar um rumo a este País e que mantêm o nosso povo na miséria constante.

Há uma necessidade de reflexão em tudo isso, há uma necessidade de ver que nós precisamos avançar, que precisamos nos unir neste País, que precisamos crescer. Não adianta ficarmos colocando armas nas mãos de um e de outro, do lado de cá e de lá. Nós só vamos nos matar, mas não vamos construir nada. Agora: educação para este povo, para esta juventude - dêem condições de saúde, de alimentação, de trabalho e vão ver o que o brasileiro consegue fazer e, aí, vamos ver que nação vai ser esta. Aí, quem sabe, os policiais militares poderão andar sem armas pelas ruas, fazendo o policiamento tranqüilo, e um cidadão respeitando a lei, sem nenhum aparato maior, mas, enquanto não construirmos isso, realmente, uns irão clamar por fuzis, por metralhadoras, por canhões, por isso ou por aquilo, mas nós não vamos resolver o problema. Vamos, quem sabe, é matar mais uns aos outros.

Então, a nossa reflexão neste momento, senhores, mesmo que ela seja dura, é no sentido de que nós pensemos realmente no que o Alferes Joaquim da Silva Xavier quis com aquele momento, o que ele desejou para a construção deste País, e vamos ver, nesses duzentos e dois anos, o que os brasileiros conseguiram construir para este País, qual a situação da nossa sociedade, qual a situação do nosso povo, qual a condição de vida que nós estamos dando para as futuras gerações. A partir daí, a partir dessa reflexão profunda, podemos realmente construir algo que edifique, que faça com que possamos nos orgulhar da construção de um grande Brasil, de um Brasil democrático, livre, de um povo consciente, não-manipulado, de um povo culto, de um povo educado, de um povo com saúde, de um povo em condições de se assumir e de dizer “eu sou cidadão brasileiro, eu tenho orgulho de ser cidadão brasileiro”, para que realmente nós possamos engrandecer a figura de Tiradentes, dizendo que a sua luta, de fato, não foi em vão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, a Vera. Maria do Rosário.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Luiz Braz; demais autoridades que compõem a Mesa; Senhores da Polícia Civil e da Brigada Militar e que têm Tiradentes como seu patrono e que acompanham essa homenagem; Srs. Vereadores e Vereadoras.

Qual a razão da permanência de Tiradentes no imaginário de todo o povo brasileiro até os dias de hoje? Tiradentes, sem dúvida, é para os brasileiros uma liderança viva. Tiradentes batizou com seu próprio sangue um programa de defesa da Nação Brasileira. O que explica a universalidade dessa figura, certamente, é o caráter nacional do programa defendido pelos inconfidentes, a defesa de uma República independente, do desenvolvimento independente deste País, da soberania nacional, de vida digna para todos os brasileiros, de justiça social nessa nossa Pátria. É verdade que os líderes republicanos de 1889 se apropriaram da figura de Tiradentes e o transformaram num símbolo. Se de um lado podem ter exagerado na mistificação da figura, é inegável que resgataram elementos básicos de seu ideário.

A Inconfidência Mineira tratou-se de um movimento, na sua essência, anticolonial, republicano: buscavam um novo projeto de desenvolvimento econômico para o Brasil e uma nova disposição das relações. Tratou-se de um movimento contraditório, pois participaram desse movimento, entre os conjurados, desde segmentos escravistas até defensores da abolição, defensores intransigentes da libertação, da abolição da escravatura. Por essa composição, teve-se um movimento limitado, mas que tinha claro os limites impostos ao País pela política colonial e pela necessidade de rompimento do Brasil com a trajetória de submissão. Um movimento inspirado no exemplo norte-americano e nos ideais do Iluminismo francês, que não tinha condições de desenvolver um projeto próprio, mais acabado, mas, dentro dos seus limites, articular e lutar pela garantia de que o fruto das explorações das ricas jazidas de minério de ouro, de Minas Gerais, fosse revertido para os interesses nacionais. Despertou, portanto, esse movimento, em todos nós, uma rica consciência nacionalista e de insubmissão, que nós trazemos até os dias de hoje. A reação da Coroa aos conjurados se deu na exata dimensão desse movimento. A velocidade dessa reação só pode ser entendida se nós atribuirmos ao momento a necessidade de acabar, de enterrar os ideais de independência que, naquele momento, germinavam, e de soberania nacional que a Conjuração continha. Entre os conjurados, sem dúvida, Tiradentes foi o mais humilde. Enquanto os seus companheiros enfrentaram a prisão e o exílio, Tiradentes foi executado cruelmente, como muito bem foi colocado aqui pelos Vereadores que me antecederam.

Nos dias de hoje, nos cabe uma reflexão sobre esse movimento e uma reflexão sobre o nosso País, sobre essa trajetória de luta democrática, de luta pela soberania nacional. No momento em que é moda, em que é alardeado pelos meios de comunicação e que se constitui toda uma aura de que o moderno é a entrega, simplesmente, das nossas riquezas e a “integração” do Brasil aos mercados internacionais e a submissão dos interesses nacionais aos grandes grupos estrangeiros, o movimento dos conjurados é um símbolo de resistência. Dele precisamos estudar e aprender a necessidade de amar profundamente esse chão e de defender a pátria brasileira, um símbolo de resistência ao que hoje precisamos enfrentar: a ousadia com que o projeto neoliberal tenta ser aplicado no nosso País, guiado pelos banqueiros internacionais, pelo Fundo Monetário Internacional, e a aplicação que se dá a ele quando um Congresso Nacional volta as costas para todo o povo brasileiro e tenta, à força, rearticular uma Constituição, que é cidadã, e transformá-la numa Carta voltada completamente para os interesses dos grandes grupos econômicos internacionais.

Vejam que aos que defendem a soberania nacional, que resistem à ofensiva neoliberal, não são poupadas críticas, sendo, muitas vezes, chamados de “dinossauros”, de representantes da pré-história. Faz-nos rir porque, na verdade, esse movimento de defesa da Nação Brasileira é o que existe de mais moderno, de mais precioso para todos os que querem ver um país independente e com liberdade. Falsamente, muitos falam em Tiradentes. Falsamente porque retiram da sua luta o caráter de defesa da soberania, o seu caráter nacional e de dedicação ao povo brasileiro. Muitos dos que levantam homenagem a ele não hesitam em condenar a defesa da verdadeira soberania e da Nação Brasileira. Alimentam uma realidade de contradições enormes, uma realidade em que, de um lado, no primeiro trimestre deste ano, os banqueiros, respectivamente, do Bradesco e do Itaú, tiveram um enorme lucro: 600 milhões de dólares o Bradesco e 300 milhões de dólares, em lucro, o Itaú. Em contrapartida, milhares de brasileiros perambulam pelos hospitais buscando atendimento, milhares de brasileiros engrossam as estatísticas da campanha de combate à fome, milhares de brasileiros não têm emprego, não têm moradia, não têm vida digna neste País.

Infelizmente, e é importante que se registre assim, as elites econômicas e políticas do Brasil têm preferido, na história deste nosso País, o papel de Silvério dos Reis para nós. Fizemos a nossa opção. Os democratas, os patriotas, aqueles que defendem com o seu coração a sua luta pela soberania nacional fizeram a sua opção. Preferimos fazer parte da luta do Tiradentes, do seu legado histórico. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Milton Zuanazzi está com a palavra.

 

O SR. MILTON ZUANAZZI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa. Toda luta tem uma essência. E qual seria a essência de Tiradentes, da luta que ele representou? A essência de Tiradentes está no, quem sabe, ser um homem simplório - colocado pelo Ver. Pedro Américo Leal - em defesa intransigente dos interesses do nosso País. Eles, os inconfidentes, levantaram-se, lá no século XVIII, num momento de grandes transformações no mundo todo, depois da Revolução Americana e da Revolução Francesa, certamente influenciados, talvez, por esses movimentos, que, naqueles países, lograram êxito, mas que, no Brasil, tiveram um retrocesso após a morte de Tiradentes e pela sua exposição pública, com seu corpo esquartejado nas ruas do Rio de Janeiro. Mas a essência de Tiradentes, essa que deve mover-nos, está aqui, desafiando a nós, homens e mulheres, brasileiros e brasileiras do final do século XX. Está a nos desafiar a sua essência, a luta pela nossa independência e soberania. Aquilo que nas relações das pessoas na vida cotidiana é comum, como nascer, passar pela infância, pela adolescência e entrar na idade adulta, não é permitido nas relações entre os povos.

A história do mundo é a história dos dominados e dominadores. Nós, brasileiros, latino-americanos, já estamos, há quinhentos anos, no campo dos dominadores, e Tiradentes, entre outros, é símbolo dessa contrariedade e indignação. Esta é a essência que devamos glorificar neste 21 de abril. Por que não podemos ser adultos? Quem nos impede? Que Coroa Portuguesa é esta, eterna, com suas garras a não permitir a nossa independência? Até quando suportaremos, num país como o nosso, que, neste Orçamento de 1994, 65% do que nós produzimos esteja destinado a pagar uma dívida interna e externa, sobrando outros 30% para o resto? E nós aqui, nesta tribuna, falando em saúde, salário e educação. Vimos aqui achar soluções, reclamar de questões periféricas. Se há uma essência, é esta luta pela nossa dignidade e liberdade, que está aí viva, presente como nunca e que precisa de nosso discernimento e enfrentamento. Está-se, agora, num momento de euforia e de entrega do País. Conquistas que levamos anos, com muita garra e luta, para obter, estamos, sim, entregando ao Deus dará. Não. Não vou entrar aqui, não, em nenhum campo ideológico ou corporativo. Não! Vou entrar num campo devidamente honrado: Tiradentes. Como alguém pode entregar um patrimônio nosso por meia-dúzia de trocos? Mas isso está sendo entregue diariamente. Estão doando! Como se pode ter determinadas políticas econômicas, cuja essência da soberania não está preservada? Até o Exército Nacional está a perigo. É de pasmar! Há um processo de desintegração do próprio Exército e as suas lideranças ficam atônitas. Mas está escrito: há que se arrebentar com qualquer princípio de soberania na América Latina.

Acabou-se a Guerra Fria. Não há mais comunistas a combater. Portanto, agora, tem que acabar com essas essências de Tiradentes. Há que se acabar com os Tiradentes que aí surgiram. Mas eles não acabaram. Continuaram a se multiplicar aos milhares, porque um povo quer ser adulto; o povo brasileiro quer ser adulto. E uma hora, não muito tarde, certamente, romperá com essas amarras e trará a verdadeira vitória pregada pelos Inconfidentes: “Liberdade, ainda que tardia”. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos também cumprimentar Benjamin Buejo, que é Presidente da UGEIRM, presente também aqui para o prazer e a honra desta Casa. Nós, agora que tivemos os Vereadores, no período de Comunicações, fazendo a sua saudação, esta homenagem que esta Casa presta à memória de Tiradentes, vamos também conceder a palavra aos representantes da Polícia Civil e Militar, presentes e com assento aqui nesta Casa, o senhor representante do Comando Geral da Brigada Militar, Cel. Eugênio Ferreira da Silva Filho, e também o Dr. Antonio Carlos Paz, Presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil. Eles até disseram que não querem fazer discursos, mas eu ofereço o microfone da Mesa para que possam fazer uma manifestação neste dia de homenagem.

O Sr. Eugênio Ferreira da Silva Filho está com a palavra.

 

O SR. EUGÊNIO FERREIRA DA SILVA FILHO: Sr. Presidente; autoridades que compõem a Mesa; Srs. Vereadores e Vereadoras, brigadianos, policiais civis e demais senhores e senhoras. Em nome do Comando Geral da Brigada Militar e em nome da minha própria corporação, desejo parabenizar esta Casa pela feliz iniciativa adotada pelo Ver. José Gomes da Silva em prestar essa homenagem, bem como agradecer as palavras de todos os Vereadores que ocuparam a tribuna para se referir ao nosso patrono maior, Tiradentes. Agradeço essas manifestações dizendo que a minha corporação, como não poderia ser diferente, continua em busca desses ideais que um dia queremos atingir. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. Antonio Carlos Paz está com a palavra.

 

O SR. ANTONIO CARLOS PAZ: Senhores, boa tarde. Seria repetitivo e até enfadonho falar sobre as necessidades e sobre as carências da nossa organização. Então, gostaríamos de agradecer esta Sessão que foi feita em homenagem às Polícias Civil e Militar e em homenagem aos nossos homens que tombaram no cumprimento do dever.

Em nome do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil, queremos agradecer, também, o apoio que temos recebido das autoridades, da Câmara de Vereadores e do Governo. Esperamos que haja sensibilidade, ainda no atual Governo, no sentido de tentar diminuir nossas carências, a do homem de polícia e também a de recursos materiais, que é um caso calamitoso, o qual nem comentamos mais. O homem de polícia, hoje, trabalha por amor à camiseta. Queremos agradecer porque, pelo menos uma vez no ano, nós somos lembrados. A polícia só é lembrada, no momento em que estamos vivendo, no próprio concurso, quando se fala de diversas coisas, verdadeiras ou não-verdadeiras, não vamos entrar no mérito, mas que enlameiam a nossa imagem perante a população.

 

 

Só nos resta agradecer por estarmos sendo homenageados, hoje, nesta Câmara de Vereadores. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Esta tarde nós ouvimos os Vereadores discorrerem sobre o carinho que todos nós temos pela memória desse grande herói nacional - Tiradentes - e sobre o amor que moveu esse homem a cometer atos como aqueles que ceifaram sua própria vida. Eu acredito que esse idealismo que revestiu a figura de Tiradentes também reveste a figura do nosso policial, porque, em condições totalmente adversas, o nosso policial cumpre com as suas obrigações, cumpre com o seu dever, e nós temos a honra de ter aqui, no Rio Grande do Sul, uma das melhores polícias de todo o nosso País.

Só nos resta agradecer, nos congratular com esses homens que continuam cumprindo com suas missões, que continuam buscando os seus ideais, que continuam no seu trabalho, para que, algum dia, nós possamos atingir a sociedade que todos nós desejamos. Muito obrigado.

Nós vamos suspender a Sessão por um minuto para as despedidas.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 15h29min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 15h34min): Estão reabertos os trabalhos. O Ver. Jair Soares está com a palavra em Comunicação de Líder.

 

O SR. JAIR SOARES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, talvez o Plenário fique surpreendido porque, via de regra, eu não tenho usado nem o tempo de Liderança, nem o Grande Expediente, muito menos as Comunicações. Mas, há poucos instantes, eu falava nessa homenagem a Tiradentes e hoje, nesta Comunicação de Líder, eu venho manifestar minha perplexidade.

Eu nunca vi, e lá se vão quarenta anos de vida pública, nos mais variados cargos deste País, administrar-se como se está administrando hoje. Eu chamo a atenção dos Srs. Vereadores, porque a situação é séria! Vejam o seguinte: 11 de março de 1964 - o Governo Federal decretou estado de calamidade pública na saúde! Hoje, o Governo declara calamidade pública nas estradas federais! Fui para o dicionário. Mas, meu Deus do céu, o que é calamidade pública? E lá encontrei: “é um grande infortúnio, é uma desgraça pública, é uma desgraça geral”. Mas quem é que tem que cuidar para que isso não ocorra, meu Deus? Quem é que tem que zelar pela nossa saúde? Quem é que tem que zelar pelas nossas estradas, por onde escoam as nossas riquezas? É o Governo Federal! E este mesmo Governo vem, através de medidas provisórias - e parece que vai administrar dessa maneira daqui por diante -, decretando estado de calamidade pública porque não há casa para morar; decretando estado de calamidade pública porque o salário mínimo é irrisório; decretando estado de calamidade pública porque o desemprego ocorre como nunca se havia visto. Enfim, vai administrar só dizendo que é uma calamidade! Eu pergunto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores: o que faz este Governo com o nosso dinheiro? Onde estão os tributos para que se faça com que a Constituição seja cumprida, para que se dê ao povo a assistência àquilo que lhe é mais sagrado: a sua saúde? Mas será que nós vamos assistir, por estes oito meses, um governo virando as costas para o problema e querendo resolver por medidas provisórias os problemas da população, os problemas que são de direito e dever de Estado, como os direitos fundamentais do homem?

Fui fazer uma pesquisa na Constituição de 1969. O art. 66 dizia que o Congresso Nacional tinha prazo para examinar e aprovar o Orçamento e, se não o fizesse, ele seria promulgado pelo Presidente e, no exercício seguinte, não se ficaria sem o Orçamento. Hoje parece que os Constituintes se esqueceram. É mês de abril e nós não temos o Orçamento de 1994, a exemplo do que já houve no ano passado. E o que se vê, apenas para ficar com um fato: ontem, a Comissão Especial que foi aprovada por esta Casa para fazer uma análise institucional dos problemas de saúde nos demonstrou que o Governo Federal, dentro da sua insensibilidade, prejudica o funcionamento do Sistema Único da Saúde, fazendo com que os Estados e Municípios estejam ao abandono. Eram 4h da tarde. Na companhia do Vice-Presidente desta Comissão, Ver. Eliseu Santos, do Relator desta Comissão, Ver. Henrique Fontana, dos integrantes desta Comissão, Ver. Lauro Hagemann e Ver. Pedro Américo Leal, ficamos estarrecidos, porque às 4h não havia mais assistência médica e, nos postos que visitamos, não havia medicamentos, não havia profissionais; outros estavam fechados, anunciando para hoje, em cartazes manuscritos, pela falta de dinheiro - não podem nem imprimir -, duas fichas para determinada especialidade clínica e quatro fichas para outra especialidade - Pediatra.

Meus amigos Vereadores, meus parceiros responsáveis pela legislação da Capital do nosso Estado, não é possível continuar assim! Nós temos que nos manifestar contra a insensibilidade do Governo Federal! Nós não vamos descansar enquanto não se der o tratamento adequado aos problemas de saúde do povo brasileiro. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Bosco está com a palavra em Comunicação de Líder.

 

O SR. JOÃO BOSCO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ainda na legislatura passada apresentei um projeto nesta Casa que visava a deixar o Ginásio Tesourinha para a prática esportiva. Foi um projeto polêmico, foi um projeto discutido. Depois de ampla negociação com a EPATUR - que na época do Prefeito Olívio Dutra cuidava do ginásio -, com o ex-Secretário da Administração, Dr. Hélio Corbellini, e Vereadores da bancada do Governo, acabei retirando o projeto porque houve a promessa de que lá apenas o esporte teria vez.

Na semana passada eu li no jornal “Zero Hora”, e fiquei satisfeito, que um empresário de Porto Alegre queria trazer um “show” a Porto Alegre e a ele foi negado porque lá apenas se pode praticar esportes. Fiquei satisfeito, contente, porque essa foi a base da minha campanha para Vereador e é, exatamente, o que querem os segmentos desta Cidade. Liguei parabenizando a Secretaria Municipal de Esportes, parabenizando a professora que dirige o ginásio, mas no dia de hoje, por acaso, por essas coisas que acontecem na vida, cai em minhas mãos um “fax” - eu não trago o “fax” aqui porque, obviamente, iria identificar a fonte -, um “fax” do gabinete do Sr. Prefeito, querendo interditar o Ginásio Tesourinha por cinco dias - de 9 a 13 de maio -, deixando mil e quinhentas crianças e idosos sem prática esportiva, sem aula de futebol de salão, handball, vôlei, basquete, kung-fu, ioga, capoeira, dança e ginástica, para lá, no Ginásio Tesourinha, alojar setecentos colonos que vêm participar de um congresso que vai reunir dois mil colonos em Porto Alegre. Não sou contra os colonos. Sou a favor da luta deles, sou a favor da reforma agrária. Acho até que têm que invadir mesmo, se não for feita a reforma agrária. Agora: é inaceitável que o gabinete do Sr. Prefeito queira desalojar mil e quinhentos alunos e idosos para alojar setecentos colonos sem terra no Ginásio Tesourinha, onde não há alojamento.

A pessoa que me passou a cópia do “fax” hoje me disse: “Esses colonos vão ter que dormir nas arquibancadas, nos banheiros.” Da outra vez que isso aconteceu, os banheiros foram danificados, e nem foram os colonos que usaram da outra vez - é bom que se diga. Então, se não há alojamento, para que empilhar seres humanos num ginásio de esportes, que é para prática esportiva, e que, com certeza, ficarão mal-acomodados, deixando mil e quinhentos alunos sem prática esportiva? Então, eu peço sensibilidade à bancada do Governo, ao Sr. Prefeito. E a informação que tenho é que quem está forçando essa barra é o Sr. Vice-Prefeito Raul Pont, que o Sr. Prefeito Tarso Genro já teria concordado em não utilizar o ginásio para esse fim. Porque, se forem alojados no Ginásio Tesourinha setecentos colonos, onde não há alojamento, onde há dois ou três banheiros para atender a todas essas pessoas, onde não há cama, onde não há uma infra-estrutura, de repente o ginásio vai voltar a ser usado para “shows”, para danças, para homenagens, como aquela vez que o Prefeito Olívio Dutra fez uma homenagem e botou dois gaúchos dançando chula de bota e espora no piso recém-feito do Ginásio Tesourinha. Então, é uma brincadeira de mau gosto que fazem com os segmentos esportivos de Porto Alegre.

Tomara que o Prefeito Tarso Genro, que tem tido sensibilidade, que já teve a sensibilidade de criar a Secretaria Municipal de Esportes - e não só a Secretaria, mas uma política de esportes, que Porto Alegre não tinha -, tomara que o Prefeito consiga sensibilizar o Vice-Prefeito  para que deixe as crianças, mil e quinhentos alunos, praticando o seu esporte e, quem sabe, aloje os colonos em outro lugar para esse encontro deles. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em votação Requerimento do Ver. Jocelin Azambuja para inversão da ordem dos trabalhos, obedecendo à seguinte seqüência: Ordem do Dia, Pauta e Grande Expediente. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

Havendo quórum, passamos à

 

ORDEM DO DIA

 

VOTAÇÃO

 

PROC. 1373/93 - REDAÇÃO FINAL do Projeto de Resolução nº 14/93, que altera e acrescenta dispositivos na Resolução nº 1.178, de 16.07.92 (Regimento Interno da Câmara Municipal de Porto Alegre).

 

O SR. JOÃO VERLE: Sr. Presidente, peço para retificar uma questão aqui no art. 8º, na folha 5. “Ficam incluídos incisos IX e X ao artigo 37 da Resolução”. Acho que há uma impropriedade, porque, na realidade, não se trata de incisos IX e X, mas de letras “l” e “m” ao inciso I. Na ocasião da votação do Projeto eu levantei a questão, mas fui alertado de que seria corrigido quando da elaboração da Redação Final.

 

O SR. JAIR SOARES: Sr. Presidente, requeiro a retirada de pauta da Redação Final para que a mesma seja corrigida.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, o art. 37 realmente fala em incisos, por isso que está correto. “Art. 37. Compete à Comissão de Finanças e Orçamento: I - examinar...”, etc. São incisos.

 

O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, a Mesa acolhe as Questões de Ordem e determina a retirada da Redação Final da Ordem do Dia, pois, realmente, houve um equívoco na elaboração da Redação.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO NOMINAL

 

PROC. 1765/93 - VETO TOTAL ao PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO LEGISLATIVO Nº 24/93, de autoria do Vereador Pedro Ruas, que acrescenta parágrafo único ao art. 15 da Lei Complementar nº 284, de 27 de outubro de 1992 (Código de Edificações de Porto Alegre), e dá outras providências.

 

PARECERES:

- da CCJ. Relator, Ver. Jair Soares: pela rejeição do Veto Total;

- da CFO. Relator, Ver. João Dib:  pela rejeição do Veto Total;

- da CUTHAB. Relator, Ver. Luiz Negrinho: pela rejeição do Veto Total.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. Está com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt para discutir.

 

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quando da apresentação deste Projeto de Lei à Casa, eu ainda integrava a Bancada do Partido dos Trabalhadores e me vi surpreendido com a decisão inicial de que a bancada votaria contrária ao Projeto. Por discordar dessa posição, cheguei a apelar ao companheiro Líder da Bancada, Ver. João Verle, para que se revisse, rapidamente, essa posição, profundamente equivocada, por se tratar do Partido dos Trabalhadores.

A bancada, momentaneamente, reviu essa posição e ficou, depois, de estudar a questão do ponto de vista do Executivo, e hoje recebemos, de uma certa maneira, de novo, com surpresa, para discussão e votação, o Veto aposto pelo Sr. Prefeito Municipal. Não integro mais a Bancada do Partido dos Trabalhadores. Estou, portanto, hoje, na representação do Partido da Social Democracia Brasileira. Quero dizer que tenho dificuldades de entender a lógica deste Veto. Dificuldades porque, em primeiro lugar, aduz o Sr. Prefeito como motivação ao Veto a Lei Orgânica do Município e o interesse público. Quanto à questão da legalidade, da Lei Orgânica, da Constituição, eu, realmente, tenho dúvidas. Sinto-me até muito tranqüilizado pelo parecer da Comissão de Justiça e Redação da Casa. Tenho dúvidas porque, se a Constituição Federal estabelece determinados parâmetros, ela não interdita de maneira nenhuma que o Município legisle restritivamente. Em nenhum campo o Município pode legislar opostamente ou amplamente, mas restritivamente não existe interdição. Portanto, não haveria, “stricto sensu”, nem inconstitucionalidade e, por conseqüência, inorganicidade.

Quanto ao interesse público, realmente fico surpreso. Cresci dentro do Partido dos Trabalhadores, com muito orgulho e muito respeito pelos companheiros, e não consegui entender a lógica deste Veto por interesse público. Ou se está do lado dos trabalhadores - e, portanto, o Projeto é bom - ou se está do lado do empresariado - e, portanto, o Projeto é péssimo. Vou ficar do lado do trabalhador. Se o empresariado quiser contestar a legislação na Justiça, que o faça. Ele tem absoluta liberdade de fazê-lo, mas que não seja o Prefeito Tarso Genro e o Partido dos Trabalhadores a dar cobertura a esse tipo de coisa. Se for inorgânico, ilegal e se não couber à Prefeitura fazê-lo, que os empresários busquem esse direito na Justiça e não que tomemos a iniciativa de aceitar aqui.

Portanto, minha posição objetiva, tranqüila, curta e clara é esta: vou votar pela derrubada do Veto, porque há uma lógica. Cabe, sim, ao Poder Público de qualquer âmbito identificar-se com segmentos. Eu escolho o lado dos trabalhadores e, portanto, sou pela derrubada do Veto. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Milton Zuanazzi está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. MILTON ZUANAZZI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, confesso que fiquei estupefato com o Veto do Sr. Prefeito Municipal, não o entendi, porque conheço o Prefeito Tarso Genro, homem que labutou na Justiça do Trabalho anos a fio, com competência, um grande advogado trabalhista. Tive os meus tempos na Justiça do Trabalho como perito. Conheço o trabalho sério do nosso hoje Prefeito Tarso Genro. Sei que ele conhece o assunto, é um lutador em defesa dos trabalhadores. Não o entendi. Até cinco minutos atrás não tinha entendido, quando o Ver. Clóvis Ilgenfritz, falando comigo, alegou um ponto de vista que não está nos argumentos do Veto.

O argumento do Veto foi colocado com perfeição pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, um argumento de interesse público. Dizia-me o Ver. Clóvis que isso poderia ocasionar problemas para o futuro comprador daquele imóvel, o adquirente daquele imóvel. Fiquei surpreso em receber a notícia na última hora, mas colocaria esta minha cabeça, nada brilhante, a pensar com rapidez. Imediatamente sou obrigado a dizer que também discordo do argumento. Parece ser, num primeiro momento, verdadeiro, mas o que nos interessa é que o comprador seja um instrumento para forçar a regularização dessa situação, que atinge a área da construção civil. Mais ainda reforça a posição contra o Veto e a favor do Projeto. Vamos colocar a comunidade como um todo, aquele que vai adquirir o seu futuro imóvel, com esta obrigatoriedade. Por exemplo, para se conseguir um “habite-se” da Secretaria da Saúde, os canos de canalização ou os fios não podem estar por fora da parede. Se sou um proprietário, ao comprar um apartamento e ver os fios fora da parede, a primeira pergunta é: onde está o “habite-se”? O proprietário é o instrumento para a regularização da situação, se é do nosso interesse regularizar uma situação que atinge a área da construção civil. Por isso, Ver. Pedro Ruas, já manifestei, na época em que aprovamos o Projeto, que seu projeto é de um profundo alcance e de um grande conteúdo. Mereceria, certamente, a unanimidade desta Casa na rejeição do Veto, porque ele vem ocupar uma lacuna aberta numa situação já difícil, que envolve todos os componentes desses setores, inclusive a própria Justiça do Trabalho, que está aí assoberbada de compromissos e de trabalho, e, principalmente, os trabalhadores da construção civil. Nós sabemos que é uma área que os nossos empregadores menosprezam. Muitas vezes, no que concerne exatamente a essa questão dos direitos trabalhistas, não cumprem determinadas obrigações e, em função da necessidade da venda do imóvel, essa exigência vai fazer com que se cumpra a lei.

Por isso meu voto é totalmente contrário ao Veto do Sr. Prefeito e apóio o Projeto, Ver. Pedro Ruas. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Maria do Rosário está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Vereadoras, eu também, em nome da Bancada do PC do B, quero estranhar o Veto ao Projeto de autoria do Ver. Pedro Ruas, porque não combina com a trajetória do Prefeito Tarso Genro. Parece-me que alguns argumentos que estão colocados valem a pena ser destacados.

O primeiro deles é que o Projeto tem um amplo interesse social e popular na medida em que se estabelece como um poder de pressão sobre aqueles empresários que não têm tido rigor, que não têm tido responsabilidade no pagamento das suas contas, particularmente com os trabalhadores, e tenham, apesar de descontado dos trabalhadores todos os meses, dívidas enormes com a Previdência, com a seguridade social, e dívidas trabalhistas também. Parece-me que o Veto do Sr. Prefeito Municipal, neste sentido, beneficia somente e unicamente os empresários do setor da construção civil que tenham dívidas trabalhistas e que tenham dívidas com a seguridade social, porque tampouco aqueles empresários desse setor, que têm o seu pagamento em dia, que fazem o seu pagamento de acordo com o interesse, com sua responsabilidade civil e com a responsabilidade das suas empresas, são beneficiados com esse Veto. É um benefício para os inadimplentes e que nós podemos, aqui na Câmara Municipal, com a derrubada deste Veto, deixar de conceder e passar, sim, o Município de Porto Alegre a ser um Município que seja fiscalizador desses direitos que são da maioria da população. Portanto, o argumento de contrário ao interesse público, aqui, é bastante questionado e somente pode ser aceito do ponto de vista do interesse público dos inadimplentes e não do interesse público da maioria da população, das pessoas que são atingidas pela inadimplência, pelas pessoas que são atingidas pelos descontos para a seguridade social e que acabam não desembocando na seguridade social de um modo geral.

Eu acho que a obrigação desta Casa é a derrubada do Veto e é importante que o Sr. Prefeito Municipal possa-nos explicar melhor essa situação. Não ficou claro. Nós não tivemos a oportunidade de conversar com o partido do Governo acerca deste Veto e parece-me que é preciso que o Prefeito explique melhor, nessa questão concreta, de que lado se posiciona.

O Projeto do Ver. Pedro Ruas tem amplo interesse. É uma forma viva, concreta, de contribuição do Município de Porto Alegre no sentido da fiscalização desses que são de interesse dos trabalhadores. Eu acho que um dos argumentos que é colocado aqui, no arrazoado da Administração, na Exposição de Motivos do Veto, que é o de poder construir, que é o direito de construir de todo o cidadão... Parece-me, Srs. Vereadores, que aqui nós não estamos querendo limitar o direito de construir, mas nós queremos que tenham direito de construir aqueles cidadãos que cumprem com suas obrigações trabalhistas e com suas obrigações para com a sociedade porto-alegrense. É uma forma viva, concreta, de contribuição.

Ver. Pedro Ruas, conte com o nosso voto e o nosso questionamento à Administração Municipal de Porto Alegre. Verdadeiramente, não foi uma forma de encaminhar pelo lado da população e uma forma de encaminhar que beneficiou não aos empresários, mas aos empresários inadimplentes, àqueles que não têm respeito com o direito trabalhista da seguridade social. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Clóvis Ilgenfritz): Com a palavra, o Ver. Wilton Araújo para  discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, dileta assistência que hoje acorre à Câmara Municipal de Porto Alegre para, tenho certeza, apoiar o Projeto do Ver. Pedro Ruas, porque reconheço, nas faces de muitos, lutadores pelos direitos dos trabalhadores na Cidade, no Estado do Rio Grande do Sul e muitos daqueles notáveis, até nacionalmente, mas hoje a Câmara Municipal se vê, pela segunda vez, Ver. Pedro Ruas - e eu dizia isso quando da aprovação do Projeto de V. Exa. -, diante de um veto de um Prefeito Municipal tentando eliminar direito de trabalhador, só que, dos dois vetos a que me refiro, um aconteceu há algum tempo atrás. Recém estávamos querendo sair da ditadura militar.

Naquela época, este Vereador apresentava um projeto, que foi aprovado e vetado, que dava o poder ao Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de controlar exatamente essas questões trabalhistas. Criávamos, na época, a obrigatoriedade de uma certidão do Sindicato dos Trabalhadores, dizendo que a empresa estava com todas as suas obrigações em dia para a concessão da Carta de Habitação. Se não me falha a memória, ano de 83 ou 84. A Casa aprova e o Prefeito veta, e tivemos, aqui, a derrubada do Veto por parte da grande maioria dos Vereadores desta Casa. Coerentemente, vejo hoje o Ver. Antonio Hohlfeldt, que naquela época ajudou a derrubar o Veto, manter a sua posição. Incoerentemente, vejo um partido que estava nascendo naquela época, ao qual pertencia o Ver. Antonio Hohlfeldt, e que dizia estar ao lado dos trabalhadores, mas quando detém o poder para ver reconhecido o direito dos trabalhadores coloca-se contra esses direitos. Aí já estou falando do segundo Veto, este do Ver. Pedro Ruas.

Não entendo a redação dada às razões do Veto. Ela é confusa e contraditória na medida em que diz que está ferindo a lei que dá direito a todo o cidadão de construir. Não tem nada a ver com isso.

A primeira lei que tive a honra de encaminhar e de ser o porta-voz do Sindicato da Construção Civil teve inquinada a sua inconstitucionalidade e, infelizmente, perdemos, porque era na antiga Constituição. Perdemos no Supremo Tribunal para os empresários, representados por seu sindicato. Desta vez, parece-me que o Prefeito quer assumir o ônus de estar entre o patrão e o empregado. Vejo com pesar um partido que cresce, que tem até presidenciável com chances de chegar lá, um partido que chega a uma Prefeitura e veta um projeto obstruindo o direito dos trabalhadores. O que fará quando chegar lá, ou para chegar lá? Será que passa por aí, por essas alianças, por esse tipo de caminho? Tomara que não! Tomara que seja somente localizado aqui, que seja um mal-entendido, Ver. Clóvis Ilgenfritz, que também, na época, fazia parte dos quadros desta Casa e também ajudou a derrubar aquele Veto. Tomara que os caminhos do Partido dos Trabalhadores não sejam esses.

Mas nós estávamos aqui, Ver. Pedro Ruas, para dizer que o seu projeto resgata esses direitos com maior amplitude. É melhor o seu projeto do que a lei que existia no passado, porque é mais amplo: reconhece e traz objetividade à fiscalização. O que se tem hoje? A lei que diz que é preciso pagar o INSS, é preciso cumprir todas as obrigatoriedades trabalhistas. Sim, é lei. Mas temos, objetivamente, uma dificuldade: a fiscalização. E este será um canal de fiscalização. Sem a Carta de Habitação não há empreiteiro, empresário que possa construir em Porto Alegre. Ele não vai conseguir vender e, sem vender, não constrói outro prédio. E como vejo aqui pessoal do Sindicato e como existem aqueles empreiteiros cuja empresa cabe dentro de uma mala, infelizmente ainda há os que somem, desaparecem no primeiro momento, logo que pegam o dinheiro da venda da casa, do apartamento, enfim, e somem. E quem fica a ver navios? São os trabalhadores.

Por isso, o projeto do Ver. Pedro Ruas é muito bom. Ele bloqueia esses maus empresários. Existem os bons, os que pagam, mas o que nós queremos é trancar um muro na frente dos maus empresários. E, infelizmente, não temos um aliado importante do passado: o Partido dos Trabalhadores. Nós continuamos aqui, Ver. Pedro Ruas, e tenho certeza que a maioria da Casa vai encaminhar nesta linha, pelos pareceres que o Projeto e Veto de V. Exa. receberam até agora.

Eu sinto falta dos companheiros do passado, que estão dispersos, estão por aí, talvez sem rumo. Venham para o nosso lado de novo. Queremos que vocês tenham coerência suficiente para derrubar o Veto, porque eu acredito que tenha sido um erro do Prefeito Municipal. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Pedro Ruas para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero registrar a alegria que sinto de ver neste Plenário diversos representantes de trabalhadores, membros de federações; Direção do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, outros sindicatos. Vejo também, com muita alegria, Sr. Presidente, colegas advogados - Dra. Élia Costa, Dr. Carlos Antunes, Dr. Jesus, que representa a AGETRA, Associação dos Advogados Trabalhistas; Dirigentes do SEMAPI, companheiro Trindade, companheira Rejane, companheira Gertrudes; Associação dos Funcionários da Febem, companheiro Renato; Juiz do Trabalho, Dr. Roberto Siegmann; Advogado Luiz Lopes Burmeister; Advogada Angela Ruas; Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Kritsche; e tantos outros companheiros, amigos, tantas pessoas que estão aqui justamente para observar, para verificar e trazer a sua posição com relação a este Projeto e a este Veto.

Perguntavam-me o Ver. Henrique Fontana e o Ver. Clóvis Ilgenfritz sobre a questão legal do presente projeto, e explico a V. Exas. que ele foi apresentado para efetivamente representar uma medida moralizadora no que tange às relações do Município com determinado segmento empresarial.

Vejam bem V. Exas. que o Município, que tem o poder de conceder ou não a Carta da Habitação, o faz sob determinadas circunstâncias e sempre limitado por outro tipo de legislação que não a municipal e exige, para conceder a Carta de Habitação, determinados documentos, determinadas certidões, através da Lei Complementar 284, que é o Código de Edificações em vigor em Porto Alegre. Esta Lei 284 tem um artigo - o de número 15 - que remete a um decreto que estabelece quais são os documentos necessários do “habite-se” e é a este art. 15 que o projeto deste Vereador acrescenta um parágrafo único, que diz, basicamente: “Para a concessão da Carta de Habitação, dentre outros, deverão ser apresentados os seguintes documentos: Inciso I - Certidão Negativa de Débitos junto ao órgão de seguridade social dos trabalhadores, inclusive quanto a obrigações contratadas com terceiros” - esses terceiros são subempreiteiros. “Inciso II - Certidão Negativa de Pendência de Execução de Dívida Trabalhista, junto ao foro competente, inclusive quanto a obrigações contratadas com terceiros” - os subempreiteiros.

Basicamente, este é o Projeto, que, ao contrário das razões do Veto, não interfere nas relações trabalhistas. Ao contrário das razões do Veto, não interfere na relação da Previdência Social, não interfere em qualquer legislação federal. Ao contrário, procura seguir com a legislação federal aquilo que o Constituinte erigiu como garantia fundamental e inalienável, como direito social básico e fundamental - salário e previdência social. Esta é a palavra de ordem da Constituição Federal: salário e previdência social. O empresário, o empreiteiro - como disse a Vera. Maria do Rosário - inadimplente nesta área realmente terá problemas. Perguntaram-me várias vezes nestes últimos dias se há empreiteiros que terão problemas. Há, é verdade, e graves problemas. Não terão o “habite-se” e não devem tê-lo e não devem construir e não devem mais explorar trabalhadores e nem devem mais enriquecer seus bolsos, seus cofres às custas do suor e do sangue de quem cai de uma árvore, de quem cai de um andaime e, não tendo a carteira profissional, não tem hospital, não tem previdência e não tem salário. E morrem no descaso das autoridades, morrem nas mãos dos empreiteiros. Morrem, sim, senhor! Morrem fisicamente! E não é uma morte política, uma morte teórica: a morte é física. Não têm salário, não têm previdência, não têm nada; mal sobrevivem.

A Constituição Federal colocou esses direitos como inalienáveis. O trabalhador, Srs. Vereadores, não pode dispor desses direitos. Ele não pode abrir mão desses direitos e nem o trabalhador pode dispor desses direitos que são seus - que dirá o empresário a favor do seu lucro. Digo a V. Exas., com a maior franqueza, com a maior sinceridade, que dificilmente terei tanto orgulho de ter realizado um projeto como em relação a esse, porque nesse projeto o que se busca, companheiro Valter Souza, Presidente em exercício do Sindicato, companheiro Miguel Zalaberre, o que se busca é o cumprimento das obrigações sociais do Município de Porto Alegre. A obrigação do Município de Porto Alegre é fazer a Legislação Maior. Não tem que dar guarida a empreiteiro inadimplente, não tem que dar guarida a empresário que não cumpre com sua obrigação social. Tem que negar, isso sim, a Carta de Habitação - é uma posição elementar do Município -, sob pena de ser conivente com esse tipo de procedimento abusivo, desumano.

Não existe interferência na legislação federal. Apenas se exige que esse tipo de empresário apresente a certidão de que nada deve à Previdência - mas é obrigação sua não dever nada à Previdência -, uma certidão de Previdência de dívida trabalhista, dívida constituída, transitada em julgado e sobre a qual não cabe qualquer discussão.

Falavam-me, esses dias, nos recursos, depois da dívida constituída. Ora, um projeto municipal não entra em questão processual do trabalho. O recurso utilizado, quando a dívida está constituída e quando há pendência de execução, nós conhecemos qual é. O recurso é mudar a composição societária, é mudar a razão social. O recurso desse tipo de empreiteira é não pagar sob qualquer preço e qualquer argumento. Esse é o recurso. E nós não vamos ser coniventes com esse tipo de recurso. Eu não tenho, nesse aspecto, neste Projeto, queixa nenhuma da digna Bancada do Partido dos Trabalhadores nesta Casa. Ao contrário, foi com o apoio dela, como diz o nobre Ver. Giovani Gregol, que o Projeto obteve unanimidade, em dezembro do ano passado. Tenho, isso sim, um questionamento permanente, a partir de agora, no que tange a esse aspecto, a essa opção verdadeiramente ideológica, a S. Exa. o Prefeito Tarso Genro, e não quis abrir não do direito de discutir esse assunto nesta tribuna porque acho que tenho esse direito. Em primeiro lugar, tenho essa obrigação, como Vereador eleito pelo povo de Porto Alegre, e, em segundo lugar, o direito de conhecer S. Exa. e de ter apoiado S. Exa. no segundo turno das eleições de 92. Tenho esse direito, sim! Conheço as posições de S. Exa. Convivi com ele, trabalhei lado a lado em muitos aspectos. Li suas obras, conheço suas posições e me surpreendo profundamente. Me decepciono, na verdade, porque acho  - e essa é a minha posição - que S. Exa. o Prefeito Municipal não deu a importância devida ao Projeto. Não discuto outros aspectos. Não me cabe discuti-los. Acho que não existem. Mas S. Exa. não deu a devida importância. Tratou como um projeto comum, tratou como um projeto que algum assessor poderia dizer: “Não gostei, Excelência. - Então, vete.” Não tratou como um projeto que diz respeito, isso sim, com a sua biografia, com a sua história no meio sindical e nos meios políticos, diz respeito àquilo que nós entendemos como conceito de S. Exa. no trabalho.

 

O SR. PRESIDENTE: Vereador, a Vera. Letícia Arruda está inscrita e cede o seu tempo a V. Exa.

 

O SR. PEDRO RUAS: Eu agradeço à Vera. Letícia Arruda e já estou em conclusão, Sr. Presidente, para dizer que este Projeto, Srs. Vereadores, teve uma discussão preliminar nesta Casa.

Por sugestão de dois Líderes de Bancada nesta Casa, bem como por sugestão de alguns juízes e advogados trabalhistas, apresentei a vigência da lei a partir de julho de 1994 para, segundo entendimento do Líder do PPR, Ver. João Dib, e segundo entendimento do Líder do PT, Ver. João Verle, não criar obstáculos às situações em andamento, para, segundo o entendimento de juízes e advogados da Justiça do Trabalho, possibilitar àquelas instâncias especializadas uma estruturação para o fornecimento das negativas. Fizemos tudo, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, para que o Projeto tivesse aceitação unânime nesta Casa. E teve, Ver. Fernando Zachia, que há pouco perguntava pelo resultado da primeira votação. E teve aprovação unânime nesta Casa.

É nesse sentido, encerrando essa manifestação e agradecendo a presença das pessoas que antes citei, que digo: é por demais importante que a Casa marque posição positiva e definitiva nesse tipo de questão. É no nosso trabalho, na nossa atuação, que esse tipo de legislação pode avançar e que esse tipo de abuso pode terminar. Fica aqui o registro, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, do orgulho e da honra profunda de ter apresentado este Projeto. Nas palavras do Ver. Wilton Araújo, por bondade de S. Exa., colocava uma importância desse em relação ao anterior. Não há dúvida de que toda a Casa é responsável pelo Projeto, porque foi toda a Casa que o aprovou, por unanimidade, mas tenho a convicção de que me competia fazer a colocação desse tipo de tópico relativo à questão legal, à questão política, à questão trabalhista.

Fica, ao final, um apelo. Repetindo as palavras generosas e afetuosas dos Vereadores que me antecederam na tribuna: seria importante, sem dúvida, a derrubada do Veto por unanimidade, mas não constranjo os Vereadores que, por um motivo ou outro, tenham dificuldade política nesse sentido. Acho que, de qualquer forma, esta Casa mostrará que, ao contrário do que é colocado muitas vezes, inclusive em órgãos de imprensa, não se dobra a todas as vontades do Paço Municipal. Era isso. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Henrique Fontana para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. HENRIQUE FONTANA: Sr. Presidente, colegas Vereadores e demais pessoas que aqui estão acompanhando a discussão sobre os vetos do Executivo Municipal. Quero, de plano, colocar que a minha vinda a esta tribuna não é para discutir essencialmente o tema do Veto. Digo que eu, assim como minha bancada, ainda não temos posição de voto definida. A partir de coisas que foram ditas desta tribuna por alguns Vereadores, especialmente pelo Ver. Wilton Araújo, senti-me na obrigação de falar em nome do Partido dos Trabalhadores.

O Partido dos Trabalhadores, sem dúvida nenhuma, cometeu muitos erros e cometerá muitos outros ao longo da sua história. O Partido dos Trabalhadores enfrenta, enfrentou e enfrentará muitas contradições ao longo da sua história. Mas todos os erros e todas as contradições pelas quais passamos, em todos os momentos, um norte nos moveu: que é o de defender o interesse dos trabalhadores. Podemos ter errado, inclusive podemos estar próximos de um erro nesse momento, mas não podemos aceitar a idéia de que se mexa e se tente fazer uma leitura da coerência e da história de construção do Partido dos Trabalhadores a partir de um projeto isolado. E foi isso que o Ver. Wilton Araújo tentou fazer desta tribuna. A história de um partido se mede por todas as decisões que este partido toma ao longo da sua existência. A história de uma proposta política se mede por todas as posições que ela defende na sociedade e não por uma eventual contradição num dado momento.

O que gostaríamos de dizer - e é impossível não desabafar nesse sentido, porque o Ver. Wilton Araújo convida o Partido dos Trabalhadores e o Governo Municipal a encontrarem um rumo, a descobrir como governar - é que temos muito a aprender na forma de governar e no rumo político a dar ao nosso partido. Mas, seguramente, se tivéssemos que passar pela mesma escola que ensinou o Governo Collares e Neuza, do partido do Ver. Wilton Araújo, a governar, nesta escola nós não passaríamos. Procuraríamos outros lugares para aprender como encontrar a rumo e como governar.

Sobre o mérito do Projeto sinto, sim, que há um equívoco do nosso partido. Não sei qual será a nossa posição final. Sinto, sim, que estamos diante de uma contradição, mas nós não podemos transformá-la numa tentativa de denegrir a imagem de um partido que luta há muitos anos para merecer a confiança que hoje tem da sociedade brasileira, de uma parcela expressiva da sociedade brasileira, e que, seguramente, Ver. Wilton Araújo, analisou em diversos momentos a coerência e a incoerência do Partido dos Trabalhadores, a coerência ou a incoerência dos governos pelos quais nós temos responsabilidade.

Aliás, aqui podemos dizer com orgulho que, nos governos que nós assumimos, nós somos efetivamente governo. Nós assumimos os erros e os acertos deste Governo. Porque o que é moda neste Brasil é constituir governo após governo que não são governo de ninguém, porque todos ocupam os cargos desses governos, mas ninguém assume a responsabilidade pelas políticas desses governos. E o nosso partido - felizmente, e para nosso orgulho, que seja cada vez mais assim - é cobrado enquanto PT, enquanto governo do PT, porque, no governo do PT, efetivamente, as posições são debatidas duramente. Existem divergências, mas nós temos uma cara para apresentar para a sociedade, Nós assumimos os nossos atos, os erros e os acertos.

Portanto, quero dizer a todos os senhores que acompanham esta votação que nós vamos refletir muito, sim, sobre o voto que vamos dar daqui a pouco, mas o que não podemos aceitar é a idéia de que um futuro Governo Lula, como colocou o Ver. Wilton Araújo, não pudesse enfrentar contradições e erros, como, talvez, possivelmente sim ou não, o nosso Governo, neste momento, possa estar enfrentando. Agora, uma garantia nós temos: o Governo Lula, se assim a sociedade decidir e quiser este Governo Lula, que deverá ser apoiado por uma ampla aliança, inclusive com parte importante do partido do Ver. Wilton Araújo, será um governo que, errando ou acertando, vai dizer claramente para a sociedade a que veio e que política desempenhará. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jocelin Azambuja está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nós realmente ficamos muito surpresos com a posição de nosso colega da Justiça do Trabalho, nós, que militamos há muitos anos nesta instituição - do nosso colega, advogado Tarso Genro, Prefeito de Porto Alegre -, que veta um projeto, em sua natureza, reportando-me ao parecer do próprio Líder do Governo, o nobre Ver. João Verle, que dizia em seu parecer, quando da tramitação do Projeto, altamente meritório e positivo, representando justamente uma posição correta e de justiça na busca de fazer com que o mal empresário e patrão sofra, por parte do Município de Porto Alegre, mecanismos de ação e de controle. Por isso, achei positivo o Projeto do nobre Ver. Pedro Ruas, porque, além de sermos colegas Vereadores, também somos advogados trabalhistas, conhecemos esta realidade e sabemos o quão é importante esse tipo de exigência, tanto em relação à legislação previdenciária, quanto às execuções trabalhistas, como é importante procurarmos mecanismos para fazer com que os maus empresários, aqueles que não respeitam a legislação, aqueles que não pagam as suas contas correntes, os que não pagam os trabalhadores, tenham, para a retirada da Carta de Habite-se, estas exigências. Claro que não se está referindo aqui - e o Projeto não vislumbra - ao profissional, ao patrão, ao empresário que paga tudo corretamente, atendendo o empregado em todos os princípios trabalhistas. O que buscou foi criar um mecanismo que ajudasse no processo legal daqueles que produzem neste País.

Pois, para nossa surpresa, tenho a impressão de que a bancada do Governo vai votar contra o Veto, porque eu vi, no parecer do relator da Comissão, Ver. João Verle, que na época era totalmente favorável... Vi as assinaturas dos Vereadores da bancada do Governo nas diversas Comissões, que eram todos favoráveis. As únicas restrições eram as do Ver. João Dib, mas não era contra. Então, sinto que o Projeto vai acabar, se não for clara outra orientação partidária... sendo derrubado o Veto na unanimidade.

 

O Sr. Wilton Araújo: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vejo que V. Exa., mesmo sem ter o aval e sem saber a informação correta... A informação correta diz que a Bancada do Partido dos Trabalhadores irá votar contra o Veto...

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Não. Eu disse que não acredito que vá votar contra o Veto.

 

O Sr. Wilton Araújo: Vereador, gostaria de, neste aparte, dizer que, se a Bancada do PT, para manter a coerência do seu passado, vier a derrubar este Veto, só teremos que reconhecer, em primeiro lugar, as contradições existentes entre várias as facções, ou entre o Executivo e a bancada - não sabemos bem -, mas diria entre as várias facções do Partido dos Trabalhadores e esta que está na Casa, e trabalhando bem.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Está correto. A nossa posição, refletindo sobre o parecer do Ver. João Verle, assinado pelos demais Vereadores da bancada governista da Casa, nos leva a crer que o voto será a favor do Veto. É evidente que deixe a ressalva, porque cada partido sabe o que faz e sabe qual o caminho que deverá tomar.

 

O Sr. Henrique Fontana: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Será um breve aparte, apenas para esclarecer ao Ver. Wilton Araújo que, seguramente, a nossa bancada saberá encontrar o caminho do voto que ela deve dar e buscará, certamente, uma posição coerente.

 

O Sr. João Dib: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Só gostaria de declarar que não votei com restrições. Eu fui relator na Comissão de Finanças e votei pela rejeição do Veto. Vereador, pelo que sinto em relação às bancadas, o Veto deverá ser derrubado. Claro que o ideal seria, justamente, com o voto de todos os Vereadores, mas fiz a ressalva, anteriormente, até por questões políticas e decisões partidárias, que todos temos que respeitar, evidentemente.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Parece-nos que o cunho do Projeto é positivo, necessário, e todos aqueles que militam na Justiça do Trabalho, colegas que eu vejo no Plenário, sabem que este Projeto é importantíssimo para todos nós, e é por isso que, tenho certeza, nós teremos êxito no final da votação, com a derrubada do Veto e a manutenção deste Projeto que é importante para a nossa Cidade, para Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Guilherme Barbosa está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. GUILHERME BARBOSA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais pessoas que nos acompanham nesta tarde, uma administração que investe 90% dos seus recursos na periferia da Cidade, que resgata a cidadania dessas pessoas, é muito difícil de ser atacada no que se refere ao seu compromisso de classe. Portanto, algumas palavras aqui colocadas caem no vazio, e também não servem para atacar nem o PT, nem o Prefeito Tarso Genro.

Quando aprovamos o Projeto, eu lembro que cumprimentei o Ver. Pedro Ruas pela qualidade do Projeto. Aqui eu quero dizer a minha posição. Na questão da construção, da compra dos imóveis, existem três jogadores nesse tabuleiro: o construtor - os empreiteiros -, sejam eles pequenos ou grandes, o comprador e os trabalhadores da indústria da construção civil. Desgraçadamente, nesse trio colocado no tabuleiro, sem dúvida, um desses jogadores é o mais desassistido de todos e sofre as maiores perdas.

O Projeto do Ver. Pedro Ruas, na minha opinião, não resolve totalmente o problema, mas é um projeto que avança na solução. Eventualmente, nós estaremos deslocando o problema dos trabalhadores para os compradores - eventualmente, nem sempre. De qualquer forma, os compradores serão sempre um grupo que tem muito mais capacidade de pressão sobre o empresário construtor do que os trabalhadores. Então, acho - essa é uma opinião antiga de quem militou durante muitos anos no Movimento Sindical e também uma visão que, acho, é do meu partido - que o Executivo tem lado. Em alguns momentos ele tem que optar. Neste caso, do Projeto do Ver. Pedro Ruas, o lado está explicitado, apesar de, volto a dizer, não solucionar definitivamente o problema. Seria melhor, por exemplo, caçar o alvará da empresa, mas podemos avançar mais, depois, em outro projeto. Avalio que este Projeto não deveria ser votado e quero, desde logo, colocar a minha posição: votarei contra o Veto do Sr. Prefeito.

Quero também afirmar, desta tribuna, que algumas colocações, querendo tirar “casquinhas”, proveito político, não avançam nas discussões e caem no vazio, porque a história deste partido e a história do Prefeito não permitem que, numa situação eventual de uma avaliação outra, façam-se críticas que não têm nenhum respaldo nessa história e nessa tradição. Voto, Ver. Pedro Ruas, pela rejeição do Veto. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): O Ver. Clóvis Ilgenfritz está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. CLÓVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ilustres participantes desta discussão, são importantes estes momentos da Câmara, quando as pessoas que vêm aqui têm a oportunidade, por sua própria inteligência, de distinguir o discurso sério, comprometido, o discurso que realmente quer acertar, buscar, do discurso oportunista, ou daqueles que se aproveitam de qualquer momento para trazer aqui um assunto tão sério, que nós não abrimos mão do nosso trabalho e da nossa luta de mais de trinta anos em favor dos trabalhadores. Ninguém aqui está autorizado, por mais que eu respeite as pessoas, a dizer que nós estamos contra os trabalhadores. Isso é demagogia, é discurso para momentos de eleição, de quem está desesperado, perdido.

Os meus respeitos ao Ver. Pedro Ruas, porque está tratando de um projeto sério, está trazendo para cá um desafio, onde a Prefeitura foi desafiada por um processo e, quem sabe, Vereador, a discussão não foi suficiente, pelo menos com a Prefeitura, nem mesmo da bancada com a Prefeitura. Nós não teremos interesse em contrariar aquilo que é o mérito do seu projeto, tanto é que votamos.

Eu quero que saibam os nobres visitantes - porque há pouco tentei argumentar com grandes e respeitados companheiros de luta e não pude porque havia uma certa exacerbação, os ânimos já não estavam muito favoráveis para uma discussão tranqüila, de parte a parte - que eu também estou aqui numa situação incômoda. É muito mais fácil para mim, como para o Ver. Guilherme, que somos da área da construção, da área do projeto, entender este Projeto e saber que, de fato, as demandas trabalhistas não prosperam. Sempre, ou quase sempre, o trabalhador sai perdendo. Agora: não é culpa da Prefeitura, vamos deixar claro; não é culpa do Prefeito Tarso Genro, que é um brilhante advogado, defensor, e não abre mão de defender os processos. Agora: ele foi convencido, e eu acho que, realmente, os argumentos da constitucionalidade não são argumentos suficientes. Eu recebi esse processo hoje pela manhã e senti que a argumentação, inclusive pelos pareceres dos Vereadores Jair Soares, Lauro Hagemann e João Dib, contradiz a questão da constitucionalidade. Essa é uma demanda que não tem fim. Eu não sou jurista e nem advogado. Tenho dificuldade para falar nesses termos, mas é uma demanda que vai para os tribunais. Pode ser recorrida e não tem fim. Agora: uma coisa que não pode ser negada é que existe um problema. Está-se passando para a Prefeitura uma demanda que, na verdade, deveria ser da Justiça Trabalhista. Quem é advogado, quem já foi Delegado do Trabalho, quem já foi defensor dos direitos humanos, quem já esteve nessa militância há tanto tempo sabe muito bem que a coisa está emperrada porque na Justiça do Trabalho as coisas demoram. Nós achamos que este Projeto não vai ter a consistência que nós estamos imaginando. O Veto vai ser derrubado; o Prefeito, possivelmente, vai propor uma alternativa. Nós estamos dispostos a rediscutir o assunto.

A AGETRA nos mandou uma carta que está sendo considerada, mas nós queremos considerar a questão mais profundamente. O Veto é derrubado, a lei entre em vigor. Nós vamos ver, no decorrer de três, quatro, cinco meses, que os seus efeitos não são tão promissores quanto nós desejamos. Votamos favoráveis. Agora: o argumento do Prefeito nos leva a fazer uma reflexão mais profunda e dizer que isso é insuficiente, porque, quando fizemos a proposta de que se deve negar o “habite-se”, nos esquecemos da situação que se cria para o comprador, para o mutuário de um conjunto habitacional, para os compradores de prédios, para instalar pequenos serviços que precisam de alvará - para ter o alvará é necessário ter o “habite-se” -, pessoas que compram na planta e que precisam três, quatro anos para que a Justiça libere um alvará de uma empresa que está tendo uma demanda trabalhista, e essas terceiras pessoas vão ser prejudicadas, em termos. Terão também a necessidade - e aí é uma crítica que fazemos com o maior respeito -, de unirem-se para fazer “lobby” para que a Justiça funcione. Vejam bem: inverteram-se um pouco os fatores. Quer dizer: o prejudicado por essa lei terá que se unir para fazer aquilo que a Justiça não faz; terá que ir à Justiça do Trabalho exigir; terá que ir às empresas exigir que cumpram determinadas questões para que a Justiça ande rápido, para que se dê o alvará, para que se dê, então, o “habite-se”. Esse problema existe, e vai continuar existindo, senhores advogados, com todo o respeito, porque estamos até numa situação delicada por não sermos advogados e termos uma certa inibição de falar nesses termos.

Mas eu queria dizer, para completar esse primeiro raciocínio, de um outro aspecto, Ver. Pedro Ruas, que nos move a fazer essa reflexão - e não temos medo de crítica, pois quando é sincera ajuda-nos, e se não é sincera desprezamo-la; e é isso que sempre fizemos: felizmente, temos essa visão de democracia, de saber respeitar os contrários, de aceitar o discurso, de ouvir mais do que dizer. Gostaria de propor, Ver. Pedro Ruas, nobres Vereadores desta Casa, que possamos evoluir  para um segundo momento em que façamos uma lei que modifique a questão do fornecimento do alvará. O Ver. Pedro Ruas, em conversa informal, diz que concorda. O alvará não pode ser concedido à empresa que não respeita a legislação trabalhista. A Prefeitura não pode aceitar - e não só a Prefeitura, mas o Estado, a Nação, os órgãos públicos - que nas concorrências públicas exista alguém com demanda trabalhista querendo concorrer. O Projeto, Vereador, é uma questão de tempo. Nós agora nos demos conta de que este Projeto precisaria ter avançado nesse aspecto, porque, aí, nós estaríamos protegendo os trabalhadores e estaríamos evitando que terceiros que não têm nada a ver com o processo fiquem prejudicados. E são milhares, infelizmente. Hoje não são muitos, porque o processo de habitação, de desenvolvimento, de construção de casas, de construção de apartamentos e de prédios de todos os tipos, está em recessão. Mas nós apostamos em que a recessão termine.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Clóvis Ilgenfritz, o Ver. Giovani Gregol inscreve-se e cede o tempo a V. Exa.

 

O SR. CLÓVIS ILGENFRITZ: Agradeço pela cessão do tempo e cedo o aparte ao Ver. Wilton Araújo.

 

O Sr. Wilton Araújo: Quero dizer a V. Exa. que serei parceiro nesse novo projeto que V. Exa. expõe da tribuna. Subscrevê-lo-ei, junto com V. Exa., se assim o desejar, porque nessa luta serei sempre parceiro. Mas gostaria de dizer também, como ex-perito técnico da Justiça do Trabalho, conhecedor dos trabalhos daquela Justiça especializada, que não concordo com V. Exa. quando coloca como base do seu argumento a demora dessa Justiça, talvez até por desconhecimento, por ignorância do funcionamento. Posso dizer-lhe que não é tão demorada assim que possa provocar danos tão pesados aos trabalhadores. Sou defensor de que a Justiça do Trabalho permaneça e que seja mais ágil, como está sendo no Estado do Rio Grande do Sul, criando novas Juntas, informatizando-se, enfim, colocando um trabalho melhor e defendendo os trabalhadores. Por último, Vereador, queria dizer que não sou candidato a nada. Muito obrigado.

 

O Sr. Luiz Braz: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Apenas para informar a V. Exa. que um dos projetos que V. Exa. disse que seria necessário para completar a idéia exposta pelo Ver. Pedro Ruas neste Projeto vetado pelo Sr. Prefeito Municipal já é lei dentro do Município. Foi apresentado por este Vereador e aprovado por este Plenário na legislatura passada. É proibido licitar-se com o Município se a empresa tiver débitos trabalhistas. Nós aprovamos esse Projeto aqui nesta Casa e com o voto também de V. Exa. Muito obrigado.

 

O SR. CLÓVIS ILGENFRITZ: Nós não desconhecemos isso, Vereador. Eu sei e V. Exa. sabe que nós trabalhamos juntos nesse processo, só que eu coloquei as duas questões, porque a outra não está privilegiada neste Projeto ainda. Nós precisamos negar o alvará de escritório, de empresas, de qualquer tipo de envolvimento com a construção que não esteja em dia com a Justiça do Trabalho, com seus funcionamentos, trabalhadores, operários da construção. Queria enfatizar, Ver. Pedro Ruas, a necessidade - independente dos resultados desse encaminhamento - que teríamos de fazer uma reunião, conversar com mais profundidade, porque, pelo que eu saiba, não houve essa discussão entre a Câmara, o proponente do Projeto e nós mesmos, com os setores que trabalham com essa área na Prefeitura.

Há poucos dias - tentei explicar antes, mas agora o privilégio da tribuna me permite - tivemos uma demanda aqui na Câmara. Todos os Srs. Vereadores, as Lideranças e eu também fizemos um discurso favorável àquela demanda de todas as entidades que trabalham na área da arquitetura, de engenharia, da construção civil, do projeto urbano, em geral, que têm queixas históricas, antigas, de que a burocracia da Prefeitura emperra... E é verdade. Não é momento de entrar no mérito. Nós vamos discutir isso. Emperra, e muito, os processos de licenciamento de obras e, inclusive, de “habite-se”: licenciamento de projetos, de construção e o “habite-se”. E nós já conversamos com o Secretário da área de planejamento da SMOV. Já fizemos reuniões com o Instituto dos Arquitetos, com a Sociedade de Engenharia, com o Sindicato dos Arquitetos e outras entidades. Estamos propondo, justamente, uma discussão urgente, apropriada, para que o processamento na Prefeitura se dê de forma mais rápida, porque o prejuízo é social, em todos os níveis. O prejuízo de um processo que não anda, no momento inflacionário que vivemos, em especial, é incalculável. Ninguém pode garantir que a sua pequena poupança vá poder comprar um apartamento de um, dois quartos, de um empreendimento qualquer, porque essa poupança não acompanha, em hipótese alguma, a valorização do preço final da construção. Eu tenho provas, e aqui todos terão, porque deve ter demanda trabalhista, ou demanda imobiliária que seja, de dezenas ou centenas de pessoas que, depois de trabalharem vinte ou trinta anos e conseguirem reunir algum dinheiro, vão comprar um apartamento na planta e vão acompanhar a sua construção e agora, que está quase pronto, as prestações chegam a um ponto que não podem mais pagar. Então, estão vendendo - e isso é uma humilhação - para poderem comprar um menor ou mais velho em razão de não conseguirem pagar as prestações.

Existem muitos problemas em nosso caminho. Há muita coisa que deve ser resolvida para solucionarmos esses problemas da distribuição de renda, das condições melhores do poder aquisitivo para que cada um possa comprar o seu apartamento, para que os trabalhadores, realmente, tenham um salário digno, e isso nós estamos de acordo e vamos fazer. Agora: não se  pode tirar proveito, e eu considero uma injustiça para nós discursos fáceis que venham querer desmerecer todo um trabalho sério, honesto, transparente e que quer acertar. Não estamos aqui para fazer carreira e nem para sermos candidatos. Estamos aqui para defender a postura de que nós precisamos conquistar o direito de governar o País, a Cidade, o Estado. Cada partido tem esse direito. Nós também temos e estamos conquistando, porque estamos tentando mudar, exatamente, isso pela raiz.

Agora, na reforma constitucional, estão querendo discutir questões que não são do interesse popular. A reforma tributária, que é do interesse popular, estão querendo deixar para depois, alheios ao acordo dos chamados “contra”, que é o PDT, o PTB, o PPS, o PC do B, para votar e discutir questões urgentes das áreas tributária e financeira. É isso que nós temos que mudar pela raiz. Não é o Plano FHC que vai salvar o País. São medidas muito mais profundas, embora desejamos que ele dê certo, mesmo com todas as suas dificuldades.

Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, com o máximo de tranqüilidade e de transparência e mantendo a nossa dignidade aqui, queria pedir para que os companheiros procurassem aprofundar todas essas questões junto conosco. Não vou aceitar do Ver. Wilton porque eu não gostei do jeito e da forma como ele faz. Isso aí é um discurso que para nós, de fato, não tem mais nexo. É senil. É senil, tal qual o chefe, mas nós queríamos, sim, mudar.

 

O Sr. Guilherme Barbosa: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Clóvis Ilgenfritz, V. Exa. não precisa se preocupar com algumas intervenções inteligentes, inclusive apartes, quando disseram que a Justiça do Trabalho é ágil. Eu acho que ele confunde o trabalho dos advogados trabalhistas com Justiça do Trabalho. Tem audiência marcada para daqui a três anos, e a pessoa chega a dizer que a Justiça é ágil. Então, acho que não vale a pena V. Exa. se preocupar com essas intervenções.

 

O SR. CLÓVIS ILGENFRITZ: Mas ele foi perito, ele entende. De tudo ele entende um pouco. Srs. Vereadores, tirando essas questões folclóricas de lado, voltando à questão séria, nós vamos nos comprometer, e eu espero que o Ver. Pedro Ruas e outros Vereadores que aqui se manifestaram se comprometam para que a gente consiga avançar mais esse sinal. Não vamos transferir para o Poder Público Municipal, porque é ele, em última análise, que está levando o choque. O Poder Estadual, nesse caso, não é quem faz o controle do uso do solo, porque sobre o uso do solo, o código de edificações, o Plano Diretor, a responsabilidade técnica, a Prefeitura faz, e faz bem, não o suficiente como gostaríamos, mas faz da melhor forma possível. Agora vai ter mais um encargo. Tudo bem. Esse encargo terá que ser assumido, mas nós achamos que ele é insuficiente, embora possa representar um passo, até porque essa discussão veio à luz da forma como veio, nos provocando mais fortemente. Nós até achamos bom isso. É um processo, e esse processo tem esse tipo de revés, tem esse tipo de problema, mas nós nunca vamos fugir porque nós, em vez de trazer aqui a crítica simples ou a defesa vazia, temos uma proposta de solução. Não foi o que fez o Vereador que estava me inquirindo antes. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Dib está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, confesso que não tinha nenhuma intenção de usar a tribuna para discutir esta matéria, mas meu silêncio poderia significar anuência e eu não estou concordando com uma série de coisas que aqui foram ditas.

Meu partido, por uma questão de coerência, alicerça toda a sua doutrina na livre iniciativa e eu não posso ver serem todos os empresários igualados aqui. O empresário é a razão da existência do trabalhador e até do Vereador. Existem excelentes empresários, excelentes trabalhadores e excelentes Vereadores, assim como existe mal Vereador, mal trabalhador e péssimo empresário. Então, não posso, pura e simplesmente, admitir que sejam todos igualados.

O Sr. Nereu D’Ávila: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Não entendi sua afirmação de que, se não houver empresários, não há Vereador.

 

O SR. JOÃO DIB: Ora, é muito simples. É o empresário quem paga impostos, quem emprega e quem faz com que o resto da sociedade gire.

 

O Sr. Nereu D’Ávila: E o resto da sociedade, Vereador?

 

O SR. JOÃO DIB: Retiro, então, o empresário da sociedade. A sociedade, no entanto, compõe-se de um todo: empresário, trabalhador, Vereador, Deputado, Senador e Governador. Não existe um sem o outro.

 

O Sr. Pedro Américo Leal: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Nereu, já tentaram isso numa parte do mundo e não deu certo.

 

O SR. JOÃO DIB: Bem: a grande verdade é que não havia necessidade de toda esta discussão. A grande verdade é que o Ver. Pedro Ruas deve ser cumprimentado e até foi injustiçado nuns tantos discursos que aqui fizeram. Se há alguém que apresentou um projeto e o discutiu dentro e fora da Câmara, esse alguém é o Ver. Pedro Ruas. As coisas são tão difíceis de entender, que foi trazido aqui que eu votei com restrições, num parecer da Comissão de Finanças. É verdade. Quando da discussão do Projeto, apesar de considerá-lo bom, tinha a minha restrição. Mas, como não quero tomar a paternidade do trabalho de ninguém e o Ver. Pedro Ruas fez um belíssimo trabalho, fui a ele e expus a razão da minha restrição. Ele, sensível, consultou mais e transformou aquilo numa emenda assinada por ele com base naquilo que eu achava que seria uma dificuldade. Então, não há por que dizer que o Ver. Pedro Ruas não debateu amplamente o problema.

A Exposição de Motivos diz assim: “em que pese a louvável iniciativa do nobre Vereador visando a resguardar os direitos dos trabalhadores...” Já tinha que parar por aí. Voto a favor, e o Sr. Prefeito que sancione a lei ou até silencie, que a Câmara promulga. Adiante ele diz que o Projeto apenas repete o disposto na lei federal. Se repete o disposto na lei federal, está certo. Compete privativamente à União legislar sobre Direito do Trabalho. Quem está legislando sobre Direito do Trabalho? Então, o meu parecer foi tranqüilo, sereno, pela rejeição do Veto, porque o Projeto se tornou simples, foi estudado amplamente e foi aceito por toda a Casa. Não queria vir à tribuna discutir, porque este Veto deve ser derrubado pela plenitude da Casa, como foi aprovado o Projeto.

Não posso dizer que a Administração do PT assume as responsabilidades. Não são os únicos. Tenho um passado inteiro... Fui seis vezes Secretário, duas vezes Assessor-Engenheiro, fui Prefeito desta Cidade e digo sempre: responsabilidade se assume e não se transfere. Eu já dizia antes. Assumi todas as responsabilidades inerentes aos cargos que ocupei. Dividi os acertos com todos aqueles que trabalharam comigo e assumi os erros - se eventualmente os tive. Posso dizer que acertei muito. Passado e presente estão dizendo que acertei muito. Sempre fui ouvinte atento. Se me disseram que estava errado, sempre tentei consertar. Talvez por isso não tenha aparecido erro mais grave, porque sempre fui um bom ouvinte. Não é o PT que inventou a Prefeitura, o serviço público, e que vem aqui fazer campanha eleitoral usando vinte minutos para defender o Sr. Lula e condenar o Sr. Fernando Henrique Cardoso. Não é isso que estamos discutindo. Estamos discutindo um excelente projeto feito por um Vereador que buscou as entidades responsáveis que pudessem dar as informações. A Prefeitura está recebendo um documento. Pode alterar amanhã ou depois, pode aperfeiçoar, mas até agora não tinha feito. Há um ano e meio eu fui à praça pública - sou um Engenheiro Civil - construir um monumento aprovado por lei desta Casa. O que esta Prefeitura fez comigo? Queria até me prender! Queriam que a Brigada Militar fosse prender o Ver. João Dib! Queriam que tivesse a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) - lá na SMOV tem um banco para fazer essa anotação - porque eu não tinha feito. Mas eu tinha uma lei, e ele diz aqui que com lei pode-se fazer. Eu tinha uma lei, mas eles não quiseram me dar. Então, fui mostrar que era possível fazer assumindo responsabilidades, já que outros que dizem que assumem responsabilidades não assumiram. Quem pode pedir Anotação de Responsabilidade Técnica, saber se eu paguei o CREA ou não, se paguei o INAMPS ou não, se estou registrado ou não, pode responder a tudo isso aqui. Como ele bem colocou: tem que dar prazo para se organizarem. Vão dizer a mim, que fui Secretário de Obras, como se dá “habite-se”, as dificuldades que têm os mutuários do sistema de habitação? Eu sei que tudo pode ser resolvido.

Ele está colocando um prazo para que as pessoas saibam que agora têm que se adaptar, têm que se organizar, têm que assumir responsabilidade daquilo que estão fazendo. Não virem aqui os doutos, os ilustrados, fazendo campanha política e dizendo que não estão fazendo, dizendo que o Projeto não é bom. Não é “bom”. É ótimo! Tem que ser derrubado o Veto por todos os Vereadores que aprovaram o Projeto. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Eloi Guimarães está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. ELOI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ver na espécie - e aqui uma homenagem aos cultores do Direito, trabalhadores do Direito - uma ingerência no Direito do Trabalho e na Justiça do Trabalho é um rotundo equívoco. Ora, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, defere a Constituição da República às municipalidades, ao Município, toda questão local relacionada com o direito de construção, em linhas gerais, com as posturas municipais. O que articula, o que procura a iniciativa Pedro Ruas senão estabelecer um grau de exigibilidade? E nisso a matéria carrega todo um componente de perfectibilidade do aparelho municipal da Prefeitura enquanto um órgão que não anui com determinadas ocorrências em campos diferentes das atividades e da vida de relações. Eu não iria falar, mas só para que não transite em julgado a colocação do eminente Ver. Clóvis Ilgenfritz cobrando da Justiça do Trabalho, que nada tem a ver. É totalmente estranha à Justiça do Trabalho a questão debatida.

O Prefeito Municipal articula o Veto em dois fundamentos: a questão da inconstitucionalidade e a questão do interesse público. Inconstitucionalidade - pode e deve o Município, para conceder a carta de “habite-se”, exigir do construtor, de alguém que edifique, o que entender, porque esta delegação detém constitucionalmente o Município. Na questão relacionada com direito de construir, o Município tem competência plena; é competente para legislar, para produzir o direito nesse campo; é questão local, é questão municipal. O interesse público carrega, sim, um conteúdo ideológico, e não vamos entrar, aqui, no debate político de o partido que está no poder ter-se desviado historicamente do seu rumo. Não é aleatoriamente uma questão subjetiva. Ele consulta uma visão que se deve ter da relação que se estabelece na sociedade, na relação trabalhadora, na relação empregadora.

Serei rápido, porque tudo que já tinha para ser dito já foi dito, e muito bem. Venho à tribuna apenas para dizer que a matéria ora em discussão não tem nada a ver, no que respeita à concessão do “habite-se”, com o Direito do Trabalho, Ver. Clóvis Ilgenfritz, nada a ver com a Justiça do Trabalho. Isso é uma questão eminentemente municipal. Ao Município compete, em face da Constituição, conceder ou não “habite-se” às edificações. E essa é uma exigência salutar. Ela busca, lá no fundo, fazer com que as relações entre o capital e o trabalho não sejam injustas, que não seja ludibriado o trabalho. Aqui não se quer abrir um debate entre o trabalhador e o empregador. Absolutamente, não. Existem os bons trabalhadores, assim como existem os bons empregadores. Portanto, a questão, repito, é eminentemente municipal. E assessorou-se mal o Prefeito Municipal quando acolhe, da forma como acolhe, as razões para vetar a presente matéria.

É esta a nossa manifestação para aqui dizer claro e em bom tom: nada tem a ver esta matéria com o Direito Substantivo do Trabalho, com o Direito Processual do Trabalho, com a Justiça do Trabalho. É questão de competência municipal. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Motta está com a palavra para discutir o PLCL nº 24/93 - Veto Total.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu não ia falar, mas o Ver. João Dib me provocou, e eu aceito a provocação democraticamente. Quero apenas assinalar dois ou três pontos desta discussão para justificar aquilo que a bancada decidiu, que é, exatamente, liberar os Vereadores de sua bancada para que assumam a posição que, individualmente, cada um julgar conveniente. Pelo menos, é essa a informação que me passou o nosso Líder.

Num primeiro momento, gostaria apenas de pautar um pouco o debate, pois às vezes - e alguns Vereadores que me antecederam já falaram -, às vezes, a emoção do debate faz com que o Plenário oscile, e alguns Vereadores em particular, de um lado a outro. O debate de Projetos de Lei, por mais justa que seja a lei, não pode ter por pressuposto, exclusivamente, o sabor e a emoção do debate, sob pena de nós “pisarmos no tomate”. Então, não é válido afirmarmos que, pelo fato de um partido estar no governo, ele deva, necessariamente, ao assumir suas decisões políticas e elaborar as políticas de governo, aplicar a posição do partido. Não é verdade isso. Há um consenso, há uma ampla maioria aqui, neste Plenário, que concorda com isso. Não é essa a primeira vez que ele agiu assim e, certamente, agirá dessa forma novamente. O atual Prefeito vai assumir posições que aparentemente contrariam o seu programa partidário, porque ele não é Prefeito do PT, mas, sim, alguém que tem a confiança, adquirida no voto popular, para decidir de acordo com aquilo que for melhor para o Município.

É nessa justa mediação que devemos criticar ou analisar as ações do Executivo. Digo isso não para absolver em 100% o Prefeito, caso ele esteja incorrendo num erro. Estou dizendo isso para não aceitar a crítica de que, com essa atitude, o Prefeito esteja colocando no cofre alguns princípios que sempre nortearam a sua trajetória política. Acontece que, neste momento, ele não é o advogado trabalhista que nós conhecemos. Ele, infelizmente, deve agir como Prefeito. Repito: não quero absolver o Prefeito, porque poderá estar incorrendo num erro político, na medida em que eu, também, concordo com algumas críticas que foram feitas às razões do Veto. Acho que foram, de fato, feitas de uma forma frágil dado à polêmica que é, de fato, a discussão que nós estamos fazendo. Agora: eu quero relativizar um pouco isso na medida em que acho que algumas críticas foram feitas - repito - muito mais pela emoção do debate do que, propriamente, a partir de uma análise racional do que vem sendo a posição do Sr. Prefeito com relação não só a esse episódio, mas em relação a outros episódios. Na minha opinião, alguns Vereadores exageraram ao dizer que a bancada, aqui, vai ter que votar porque o Prefeito errou. Não é a primeira vez. Nós poderíamos recapitular. Eu estou na Câmara há cinco anos e, nesse tempo, várias vezes nós votamos contra o veto do Prefeito - na época, o Prefeito Olívio Dutra; agora, o Prefeito Tarso Genro - exatamente para tentar ver a seqüência daquela tramitação. E, na verdade, este Projeto, ao votarmos e derrubarmos o Veto... Não estaremos, infelizmente, encerrando esse ciclo, Ver. Wilton Araújo, porque infelizmente - e é um argumento que me pauta muito nesse tipo de decisão - no Brasil, neste País de Terceiro Mundo (pena que eu não tenha acompanhado o pronunciamento do Ver. João Dib), não é regra geral, não é princípio respeitarem-se os direitos trabalhistas. Exagerando, é uma vergonha nacional.

Portanto, é lamentável, por esse aspecto, que nós tenhamos, Ver. Pedro Ruas, que nos valer dos Legislativos Municipais para criar situações de pressão sobre parte dos empregadores que não cumprem a legislação trabalhista. Porque essa é a regra geral. Por que não cumprir a legislação trabalhista? Então, os que não cumprem com a legislação trabalhista merecem, de nossa parte, o quê? Um refresco? Evidentemente que não, Ver. João Dib, principalmente aqueles empresários, aqueles incorporadores que não cumprem, por má-fé, inclusive, por sacanagem, não cumprem - pela “Lei de Gerson”, pela vantagem. E eu conheço, um pouco, a lide sindical.

Acho que o Executivo, o Prefeito não vai ficar brabo. Não vai haver crise nenhuma entre o Legislativo e o Executivo, não vai haver crise entre o Sr. Prefeito e o Ver. Pedro Ruas, autor do Projeto. Somos suficientemente inteligentes para saber o que precisamos, neste momento, decidir. Na verdade, ao derrubarmos o Veto, estaremos criando uma situação em que essa negociação vai se dar em outra correlação de forças, o que é positivo. Esse é, na minha opinião, o quadro, o cenário político em que agora vamos passar a discutir no âmbito do Município de Porto Alegre e, a partir dessa lei, essa questão, ou seja: como é que o Município pode moralizar, atingir essa esfera do Direito, que é elementar, mas que em grande parte não é cumprida.

 

O Sr. Milton Zuanazzi: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Concordo com o pronunciamento de V. Exa., principalmente com a primeira parte. Gostaria de dizer que tem algo que cansa, também, no Plenário. É um certo dogma da perfeição, transparência, do não errar. E, se não bastasse esse, tem o dogma ainda de dizer-se que isso não acontece normalmente. Ficamos com aquela frase de Vinicius de Moraes: “O homem que diz ‘sou’ não é”. Basta. Acho que o Prefeito tem uma posição, nós estamos tendo outra, e essa posição é clara, aberta, limpa. Não tem nenhum jogo político a mais e nem crise insuperável irá acontecer. Agora: são posições que contradizem com determinadas histórias, e as verbalizamos.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Portanto, concluo, manifestando, mais uma vez, a minha posição favorável ao Projeto. Já havíamos votado a favor, toda a bancada. Se não for este o parâmetro... Levantei apenas dois, e isso me autoriza a fazer um discurso contundente contra o Governo do Estado, por exemplo, porque certamente, até hoje, ele não tomou iniciativa semelhante. Nem quando era Prefeito se preocupou com esse tipo de legislação. Mas não é da nossa prática política fazer ou criar esse tipo de situação. Prefiro, nesta discussão, não partidarizá-la, mas assumir esses dois pontos que estou tentando deixar claros, que me levam, neste momento, a votar favoravelmente ao Projeto. Ou seja: primeiro, que é exatamente esse princípio, que é o cumprimento da legislação trabalhista; portanto, não vejo nenhum problema. Caso o Projeto seja, inclusive, ilegal, vamos estender aqui o nosso raciocínio: eu acho que vale ainda a discussão no Judiciário. Então, nós não estamos aqui criando uma situação sem saída, ou, ao contrário, criando uma situação de constrangimento para o Executivo.

Então, eu não vejo, por essa razão - fundamental -, nenhum problema em nós mantermos a legislação para vermos o desfecho dela. Acho que não há problema. Já vivemos situações semelhantes. Não é o fim do mundo. O Poder Judiciário não vai parar, a Justiça Trabalhista não vai parar, o Prefeito não vai ser tachado disso ou daquilo - creio que não. Eu acho que é meritória a iniciativa do Ver. Pedro Ruas.

Agora: eu acho que temos que ter de fato, nesse debate, uma certa calma, uma certa razão. Caso contrário, alguns dos argumentos tornam a discussão um pouco demagógica ou até mesmo enfadonha. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Passamos a votação. O Ver. Nereu D’Ávila está com a palavra para encaminhar.

 

O SR. NEREU D’ÁVILA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, mesmo fugindo da discussão, da contradição, a Bancada do PT passou a tarde desfilando na tribuna, apresentando as suas contradições. Porque, por perplexo que possamos estar, um dos Vereadores que falou pela bancada disse que, a poucos minutos da votação, não tinham tomado uma decisão. É muito sintomática essa confissão. Quer dizer que os vetos não são especificamente discutidos da bancada com o Prefeito, o que é de preocupar, até porque votaram favorável ao Projeto e, se votaram, acharam que era bom. Hoje já não é bom? Aliás, as explicações que a Administração do PT está apresentando agora estão mostrando aos poucos a verdadeira farsa, aquela que conseguiu enganar o povo e repetir a dose na Prefeitura. Ontem, numa reunião a respeito de uma linha de ônibus no Alto Partenon, uma das populações mais pobres desta Cidade, que é a Vila Maria da Conceição, estavam lá o representante da SMT e o Diretor da Carris, o Sr. Bertotto, e a alegação por terem tirado o T-2, depois de passar dez anos pela Vila Maria da Conceição, foi a seguinte: ele disse que não há segurança. Ora, esses dias, seqüestraram um ônibus noutra vila. Então, se o problema é segurança, muitos Ts irão ser recolhidos às garagens. São justificativas inexplicáveis, e essas contradições têm que ser apontadas aqui, sim, porque o projeto agora vetado, do Ver. Pedro Ruas, consegue atingir uma globalidade esplendorosa. O que a sociedade atualmente quer? Qual a crise da sociedade brasileira? É a crise da transparência, é a crise da anticorrupção, é a crise de acabar com a “Lei de Gerson”. É por isso que estão sendo cassados Deputados, é por isso que está sendo aperreado o Congresso Nacional, que só se reúne nas terças, quartas e quintas-feiras, quando muito. É por isso que tem que acabar, inclusive, com aqueles que fogem dos pagamentos, do recolhimento, quando este Projeto atingir exatamente esse sentido, que é de...  E foi confessado aqui pelo último orador. Por que não se paga, por que não se recolhem as questões trabalhistas? Ora, porque isso é um costume antigo no Brasil e isso quer dizer que está se assumindo na sociedade, em todos os setores da sociedade, a sua verdadeira farsa, porque, quando quer se dizer hipocritamente, embora reconhecemos que muitos, talvez centenas de políticos comprometem a imagem da sociedade brasileira... É verdade. Agora: escolher apenas a classe política para se dizer que quem está na política pode ser generalizado como não-honesto ou algo semelhante! Só que aos poucos a sociedade vai-se olhando no espelho e vendo que não é só essa classe não, pois há diversas que não recolhem, que sonegam, que tem inadimplência, inclusive os empresários. Então, estamos exatamente nesse sentido. Até ninguém aqui, ou alguns, quiseram discutir o problema legal. Se falou, agora, até em Justiça, porque a questão não é legal, ela é moral, e, moralmente, este Projeto é inatacável, é inatingível, porque ele lanceta exatamente setores que nunca recolhiam e que embolsavam, como disse o Vereador do PT aqui, com propriedade, às vezes de má-fé. Então, este Projeto tem esse fator miraculoso. Ele é moderno porque atinge exatamente aquilo pelo que a sociedade toda hoje está lutando - a transparência, acabar com os privilégios, como o lucro mais fácil, porque, não recolhendo, evidentemente, o lucro é maior.

Nem vou precisar elogiar o Projeto porque já foi amplamente elogiado, mas apenas para dizer e defender aqueles que, como o Ver. Wilton Araújo, defenderam seu ponto de vista e as contradições de um partido que vota aqui por unanimidade e depois vê o Projeto vetado e fica como barata tonta que não sabe o que faz em sua bancada. A mesma coisa vai acontecer com o Projeto da Vera. Maria do Rosário de aumentar o Conselho Municipal dos Transportes. O Conselho não é Conselho, é uma assembléia-geral, é o assembleísmo do PT. Agora o Prefeito vetou, tirou a autonomia para vetar. Eu quero ver também como é que se comporta a Bancada do PT. Eu acho que ela tem que se reunir, no mínimo, uma vez por semana com o Prefeito Tarso Genro para afinar o passo.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos comunicar ao Plenário que, em meio a essas discussões todas, temos um motivo de satisfação hoje, que é o de cumprimentar a nossa taquígrafa Enilda, aniversariante no dia de hoje. Meus parabéns à Enilda. (Palmas.)

Em votação nominal. (Após a chamada.) APROVADO o PLCL nº 24/93 por 26 votos SIM e 05 ABSTENÇÕES. Rejeitado, portanto, o Veto Total a ele aposto.

Requerimento do Ver. Giovani Gregol, já deferido por esta Casa, que requer licença para representar a Câmara Municipal de Porto Alegre, sem ônus, no VI Encontro Nacional de Entidades Ambientalistas, em Londrina.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. 0527/94 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO EXECUTIVO Nº 006/94, que altera os limites da Unidade Territorial Industrial 01 e Unidade Territorial Residencial 07, da Unidade Seccional Intensiva 19, e modifica o regime urbanístico a ser observado em Área Funcional estabelecida pela Lei Complementar nº 43, de 21 de julho de 1979, e dá outras providências. (Urgência)

 

PARECER CONJUNTO:

- da CCJ, da CFO, da CUTHAB, da COSMAM. Relator-Geral, Ver. Eloi Guimarães: pela aprovação.

 

Obs.:

- para aprovação, voto favorável da maioria absoluta, art. 82, § 1º, I, da LOM.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. Com a palavra, o Ver. Eloi Guimarães para discutir.

 

O SR. ELOI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, as Comissões votaram favoravelmente, por unanimidade, ao parecer de autoria deste Vereador que foi dado ao presente Projeto.

Esse Projeto, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ele traduz o que se poderia chamar a verdadeira democracia participativa.. Ele foi trabalhado pelo Município, pelos seus órgãos técnicos. E aqui, Sr. Presidente, eu registraria uma técnica com quem eu tive a honra de contar com a colaboração quando Secretário dos Transportes, uma pessoa com profundos conhecimentos da questão urbana da Cidade de Porto Alegre, Dra. Silvia Knijnik, que, juntamente com outros técnicos, evidentemente, juntamente com a Associação dos Proprietários e Usuários do Porto Seco, cuja presença do Presidente honra esta Casa, o Presidente Silvano... Membros da Diretoria estão aqui. Muito colaboraram. Então, esse Projeto do Porto Seco - e eu nunca deixo de lembrar que era o ideal do nosso velho amigo, amigo de todos, o Ver. Aloísio Filho, que era a construção da Cidade do Transporte - ele é bom projeto. É um projeto que redefine os parâmetros. Ele se insere dentro do contexto da área. É um projeto tranqüilo, que mereceu a unanimidade das Comissões, e é nesse sentido que estamos na tribuna, para, rapidamente, pedir a aprovação do mesmo por se trazer de um projeto que vem criar mecanismos, disposições no sentido de melhor equipar esse importante setor da economia, que é o transporte de carga na Cidade de Porto Alegre.

Oxalá, num amanhã breve, estejam lá no Porto Seco todas as empresas de transporte de carga da Cidade de Porto Alegre. Portanto, é um projeto pacífico, e não haverá nenhuma dificuldade em aprová-lo. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação. O Ver. Nereu D’Ávila está com a palavra para encaminhar  o PLCE nº 06/94.

 

O SR. NEREU D’ÁVILA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, como eu fui o autor do pedido de urgência, queria justificar. Embora o Projeto seja do Executivo, nós pedimos urgência porque, como disse o Ver. Eloi, o Projeto abre um amplo espaço, alterando o Plano Diretor, para a consecução daquilo que foi o sonho de Aloísio Filho e que foi implementado pela Administração Alceu Collares, quando Prefeito de Porto Alegre. Esta é uma realidade histórica que não podemos esconder. Era um desejo dos senhores empresários de transportes instalar uma realidade.

Alguns Vereadores foram à posse da nova Diretoria, que vê com bons olhos a posição da Câmara. Creio que este vai ser aprovado por unanimidade, porque ele não é dos empresários, mas da Cidade de Porto Alegre. Este Projeto vai retrasar a área do Porto Seco, inclusive dividindo com depósitos, ligando pela sua ala norte à freeway e à Via do Trabalhador. É um projeto de grande alcance.

Quero registrar que esta Câmara trata as questões da Cidade como questões desta. O Prefeito Tarso Genro estava na posse da última Diretoria, pronunciando-se, porque ele, como Prefeito, é o primeiro interessado em que a Cidade se desenvolva. Este Projeto dá mais desenvolvimento à Zona Norte. Temos certeza que o velho Aloísio Filho nunca sonhou que, em tão breve tempo, teríamos aquilo pelo que ele lutou tanto, como os representantes da Zona Norte, quando os caminhões estragavam o calçamento e o asfalto, prejudicando a Zona Norte. O Porto Seco, no futuro, será uma realidade que vai trazer progresso, fortalecer a economia, e engrandecer a Cidade de Porto Alegre.

Eu gostaria que o Jornalista José Barrionuevo, que colocou em sua prestigiadíssima coluna que esta Casa é tão obediente ao Prefeito Tarso Genro, registrasse o placar da votação anterior: vinte e seis a cinco, contra o Prefeito Tarso Genro. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Clóvis Ilgenfritz está com a palavra para encaminhar  o PLCE nº 06/94.

 

O SR. CLÓVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Bancada do PT, por conseqüência, a bancada do Governo, não poderia deixar de trazer também a sua posição de apoio total e irrestrito a este Projeto que foi discutido e que representará um avanço importante para que a cidade dos transportes se realize. São esforços conjugados que vêm de governos anteriores, que avançaram no Governo Olívio Dutra, que estão avançando agora, no Governo Tarso Genro, e vão ter que avançar mais nas próximas etapas. Esta é apenas uma etapa importante, porque regulariza, cria situações favoráveis, faz expansões para localização do setor educacional e cultural que está se propondo no Porto Seco, a questão das ligações com as vias de acesso e assim por diante.

Eu queria cumprimentar os empresários do Porto Seco, na figura do Presidente, Sr. Silvano, e também cumprimentar os funcionários da Prefeitura Municipal que trabalham nesse processo na figura da Arq. Silvia Knijnick. Eu acho que estamos de parabéns, porque não vamos dar margem para que possa haver um mal-entendido, de novo, do Barrionuevo, mas ele vai ter um placar de trinta e três a zero, porque é bom para a Cidade, e os Vereadores sabem disso. Nós estamos de acordo, votando favoravelmente. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jocelin Azambuja está com a palavra para encaminhar  o PLCE nº 06/94.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Bancada do PTB não poderia deixar de fazer um registro importante: o desenvolvimento da Cidade é primordial. Logo que assumimos o cargo de Vereador, estivemos fazendo uma visita ao Porto Seco, com os Diretores do grupo de empresários que dirigem aquela importante associação, e vimos que era fundamental esse projeto de desenvolvimento.

Está de parabéns o Executivo Municipal pelo encaminhamento dado. Há necessidade de desenvolver a nossa Cidade, de aprimorar, e o Porto Seco, hoje, é uma grande realidade positiva para Porto Alegre. Por isso fazemos esse registro de apoio ao Projeto. Como disseram os colegas que me antecederam, haverá, tranqüilamente, a unanimidade de apoio desta Casa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Dib está com a palavra para encaminhar o PLCE nº 06/94.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, há processos aqui que não precisam ser discutidos. Foi o caso do veto ao Projeto do Ver. Pedro Ruas, que não precisava ser discutido porque nós sabíamos do resultado, assim como sabemos do resultado deste.

Todo o mundo quer falar sobre uma matéria que está em pauta. Muito bem: eu também quero falar sobre o Porto Seco. Eu ajudei a fazer o Porto Seco. Como Prefeito, quis vender, mas não consegui porque tive dificuldades na Câmara. Como Prefeito, mandei abrir avenida e mandei fechar porque o então candidato Alceu Collares declarou publicamente que, se invadissem, ele não retiraria. Então, tive a obrigação de fechar o Porto Seco e contratar policiamento.

Já que todo o mundo quer registrar, estou registrando o meu pedaço. Voto a favor. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em votação o PLCE nº 06/94. (Após a chamada.) APROVADO por 25 votos SIM e 01 ABSTENÇÃO.

Requerimento, de autoria do Ver. João Verle, solicitando que o PLCE nº 06/94 seja dispensado de distribuição em avulsos e interstício para sua Redação Final, considerando-a  aprovada nesta data.

Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO NOMINAL

 

PROC. 0214/94 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 02/94,  do Vereador Gerson Almeida, que concede o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao artista plástico Vasco Prado.

 

PARECERES:

- da CCJ. Relator, Ver. João Motta: pela aprovação

- da CEC. Relatora, Vera. Maria do Rosário: pela aprovação.

 

Obs.:

- para aprovação, voto favorável de dois terços da Câmara (art. 82, § 2º, IV, da LOM);

- votação nominal (art. 174 do Regimento).

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. (Pausa.) Em votação. (Pausa.) (Após a chamada.) APROVADO o PLL nº 02/94 por 22 votos SIM.

Requerimento, de autoria do Ver. João Verle, solicitando que o PLL nº 02/94 seja dispensado de distribuição em avulsos e interstício para sua Redação Final, considerando-a aprovada nesta data.

Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. 0384/94 - PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 03/94, do Vereador Jocelin Azambuja, que institui o Prêmio de Educação Thereza Noronha, a ser concedido anual e individualmente.

 

PARECERES:

- da CCJ. Relator, Ver. João Motta: pela aprovação;

- da CEC. Relator, Ver. Décio Schauren: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Requerimento do Ver. Jocelin Azambuja, solicitando que o PR nº 03/94 tenha sua discussão adiada por três Sessões.

Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

Requerimentos encaminhados à Mesa.

 

(Obs.: Foram aprovados os Requerimentos constantes na Ata.)

 

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h13min.)

 

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